Ler em público é sempre engraçado e pode gerar situações curiosas. Eu mesma já escrevi sobre isso num post anterior, mas estou voltando para contar outra situação bem embaraçosa que já aconteceu comigo algumas vezes. Como a faculdade me toma muito tempo, acabo aproveitando o percurso de 3 ônibus da minha casa até o campus para poder ler pelo menos um pouco. Claro que é mais confortável ficar sentada, mas desde que haja um lugar para poder me encostar e ficar em segurança, eu leio também em pé, e as vezes também nas filas. As pessoas em geral não estão acostumadas com isso, e deve ser bem estranho ver uma garota lendo dentro do coletivo. Alguns ficam olhando e perguntam que livro é, ou então observam para ver se não perco o equilíbrio quando estou em pé.
Certa vez, na volta para casa, estava sentada do lado de uma velhinha. Ela deve ter ficado muito curiosa com a minha concentração na leitura, e de repente me interrompeu, perguntando: "É a Bíblia?". Muito surpresa com a pergunta, olhei para ela tentando não fazer uma cara de quem estava achando aquilo um absurdo (afinal, era uma mulher muito idosa, e se eu respondesse de um jeito errado, podia ficar ofendida). Apenas respondi pra ela que não, e a conversa acabou ali.
Mais tarde, fiquei pensando o que poderia ter feito com que ela pensasse que meu livro era uma bíblia. Acontece que eu estava lendo a edição econômica de A Tormenta das Espadas, o maior dos livros d'As Crônicas de Gelo e Fogo. Estando o livro aberto, ela não podia ter visto a capa, que talvez possa ser confundida com uma bíblia olhando de longe, pelo fato de ser preta com inscrições em letra dourada.
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Como eu disse, as únicas semelhanças entre os dois livros são a capa preta e as letras douradas. |
Mesmo assim, ela não tinha visto a capa, e mesmo se tivesse visto, os dois livros só poderiam ser confundidos à distância. Fiquei me perguntando o que haveria de tão parecido... Até que me lembrei que A Tormenta das Espadas é o maior dos cinco livros, e que sua edição econômica é bem volumosa, com cerca de 1400 páginas. Juntando isso e as letras bem pequenas, ela deve ter se confundido!
Durante alguns dias achei a situação estranha e até contei para algumas pessoas, rindo da inocência da velhinha. Afinal, minha leitura não tinha nada a ver com o que uma pessoa da idade dela deve achar adequado para uma garota. O engraçado é que a mesma coisa já tinha acontecido antes, quando estava lendo o volume único de Os Pilares da Terra, que peguei emprestado com um amigo. O livro é imenso (cerca de 900 páginas), e além de ter capa dura, tem uma fita presa por dentro para marcar as páginas - assim como a maioria das bíblias. Para vocês terem uma ideia, aqui vai uma foto:
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Com mais de 900 páginas e em capa dura, o volume único de Os Pilares da Terra é muito pesado. |
Grande, grosso e pesado, eu mal aguentava levá-lo dentro da mochila com os livros didáticos. Na escola, gostava muito de ler entre as aulas, sempre que tinha algum tempo livre. Certa vez, entrando na sala, a professora de História me viu com aquele livro imenso em cima da mesa, e perguntou alto o suficiente para que todos ouvissem, se eu estava lendo a Bíblia. Eu apenas disse que não, rindo um pouco, e marquei a página para poder mostrar a ela o livro fechado. Surpresa, ela, até se interessou pela história quando expliquei que se tratava de uma narrativa medieval sobre guerras, intrigas na Igreja Católica e o sonho de um homem simples de construir uma catedral gótica.
Seja como for, não sou uma leitora da Bíblia. Conheço apenas algumas passagens do Novo Testamento, e poucas histórias do Antigo, e não sinto a necessidade de ler. Por isso, a confusão causada pelos meus livros "grandes" me deixa um pouco espantada. Mas acho que essa é uma das pequenas coincidências de ler na presença de outras pessoas: elas sempre acabam nos surpreendendo.
Adoro compartilhar histórias assim, e espero não ter sido desrespeitosa com ninguém ao falar do meu espanto com o ocorrido.
Por: Lethycia Dias