Confira!

"Paul Edgecombe é um homem velho. Muito velho. E no asilo para idosos onde passa agora seus dias, Edgecombe é assaltado por lembranças do passado. Penitenciária de Cold Mountain. O macabro corredor da morte. Frios e cruéis assassinos. Por muito tempo, Edgecombe foi guarda do presídio onde ficavam os condenados à morte, e são muitas as histórias que insistem em visitá-lo em seus dias agora vazios. Mas há uma em especial que o atormenta. Há uma em especial que não deixará Edgecombe em paz até contá-la em detalhes. Todos os detalhes. É a assustadora história de John Coffey, o gigante assassino de duas meninas. Acompanhe Paul Edgecombe neste mergulho num passado de ódio, vingança e... milagres. O corredor da morte espera sua visita."

Autor: Stephen King
Gênero: Drama
Número de páginas: 230
Local e data de publicação: São Paulo, 2004
Tradução: M. H. C. Côrtes
Editora: Planeta DeAgostini

Coisas difíceis de se ler


Durante um "passeio" por um dos muitos sebos de Goiânia, acabei me deparando sem querer com essa edição de À espera de um milagre, em capa dura, por apenas R$ 20,00. Eu já tinha ouvido falar muito de Stephen King, estava curiosa para conhecer suas histórias, e considerei o livro um achado, por isso, o comprei. Eu nunca tinha assistido ao filme, não sabia do que se tratava a história, e nunca tinha lido uma resenha ou ouvido um comentário. De vez em quando, a gente se dá o luxo de cometer essas loucuras... Mas não me arrependo nem um pouco!
Paul Edgecombe, o personagem principal e narrador dessa história, é o chefe dos guardas no Bloco E da penitenciária de Could Mountain, no estado americano de Geórgia. Quero dizer: ele foi chefe dos guardas, há várias décadas, porque a história está sendo contada a partir de lembranças de seu passado, enquanto ele contempla a velhice em um asilo, onde sente a necessidade incontrolável de escrever o que aconteceu na prisão em 1932. O Bloco E, comandado por ele na época, é a parte da prisão onde ficam os presidiários condenados à morte pela cadeira elétrica, e Paul tinha um trabalho difícil, triste e capaz de tornar um homem pessimista e calado: vigiar homens que estão à beira da morte. Paul já está acostumado demais a esse trabalho. Ele sabe que um de seus maiores deveres é garantir que esses homens não cometam suicídio, e sabe também que mesmo que tentem não demonstrar, todos eles sentem medo no momento da execução. Agora, ele precisa escrever sobre John Coffey - "como o que se toma com leite, mas escrito diferente" -, um homem negro, muito alto e muito forte, condenado pelo estupro e assassinato de duas meninas.
Desde o dia em que John chega ao Corredor da Morte, Paul enxerga algo diferente nele. John parece não ter muita conexão com a realidade, e a única coisa que demonstra saber sobre si mesmo é seu nome. Ele não parece um estuprador e assassino cruel: passa a maior parte do tempo chorando, tem medo do escuro, e não causa nenhuma espécie de problema para Paul e seus colegas Dean, Harry, Brutus e Percy. Mas a curta estadia dele no Bloco E desencadeia acontecimentos tão surpreendentes, inacreditáveis e marcantes, que Paul nunca deixou de pensar nele durante todos esses anos.
Outros personagens do Bloco E também fazem parte dos acontecimentos inesquecíveis daquele ano. O cruel e insensível William Wharton; o pequeno Eduard Delacoix; e seu rato de estimação, o esperto Sr. Guizos. Também têm certa importância o diretor da prisão, Hal Moores, e sua esposa, Melinda, que está muito doente.
Impelido por um estranho impulso, Paul quer descobrir mais sobre Jonh Coffey, não se contentando em apenas ler as notícias sobre seus crimes e seu julgamento. E cada vez mais nos damos conta de que algo nessa história toda não está certo. John seria mesmo culpado? Paul descobre também um misterioso dom que o enorme homem negro escondia, e uma série de "milagres" faz com que toda a verdade venha à tona.

Imagem compartilhada no meu Instagram durante a leitura.
Acompanhe em: @lethyd
"O tempo cuida de tudo, quer se queira ou não.
O tempo cuida de tudo, o tempo carrega tudo e no fim tudo que existe é escuridão.
Às vezes encontramos outras pessoas nessa escuridão e às vezes as perdemos lá novamente."
Página 218.

A história é contada em primeira pessoa por Edgecombe, como já disse. A narrativa é construída através do recurso do flashback, mas só nos damos conta disso depois de algum tempo, quando então descobrimos que Paul está escrevendo suas lembranças relativas à passagem de Coffey pelo Bloco E. O livro é divido em seis partes, cada uma com sua própria divisão autônoma de capítulos, e isso aconteceu porque foi publicado pela primeira vez em volumes diferentes. King estava experimentando um recurso de publicação seriada, usado no passado pelos escritores (especialmente por Charles Dickens). Cada uma das seis partes do livro teve a sua vez de ser publicada, de forma que todas as pessoas só poderiam saber o fim da história quando realmente chegassem ao fim. Nessa edição, a história está completa, é claro, mas estão incluídos uma introdução, um prefácio e um posfácio escritos pelo próprio Stephen King e explicando como surgiu a ideia para essa história, como ele decidiu publicá-la em partes, e agradecendo aos leitores pelo sucesso obtido. Foi muito interessante ler isso tudo, e a presença desses três textos é para mim um ponto positivo na edição.
Os personagens são muito bem construídos, com destaque para os detentos do Bloco E. Eles são retratados muito além dos crimes que cometeram, e embora saibamos que fizeram coisas terríveis para merecerem a pena de morte, nós conseguimos enxergá-los como pessoas. Sentimos pena de Coffey e medo de Wharton... Eu até gostava bastante de Eduard Delacroix, senti um grande encanto pela história em torno dele e do Sr. Guizos, e chorei enquanto lia sobre sua execução - a parte do livro que relata esse acontecimento é denominada "A morte horrenda de Eduard Delacroix", e digo a vocês que "horrenda" é o adjetivo correto para falarmos da forma que aconteceu.
A linguagem utilizada é fácil de compreender, apesar de a edição seguir regras ortográficas antigas e um pouco diferentes da ortografia que estamos acostumados a ler e escrever. É possível encontrar palavras com um C ou P mudo (Por exemplo: cépitco), que podem parecer estranhos a princípio, mas nada que atrapalhe a compreensão. Também existem algumas palavras e expressões que já não são usadas hoje em dia, mas que faziam parte da ambientação da história. E claro, como a linguagem de um livro tem de ser adaptada aos seus personagens, temos a existência de muitos xingamentos, e de algumas palavras e expressões erradas de propósito. Vale lembrar que nossos personagens são presidiários e homens com pouca instrução.
Um aspecto importante sobre o livro é que retrata bastante o racismo. Em várias passagens, há comentários dos personagens de que ninguém se importaria muito com o futuro de John Coffey, porque, afinal, seria "um negro a menos no mundo". Alguns dos personagens também se referem aos negros com expressões pejorativas relativas a estereótipos comuns nos Estados Unidos, porém pouco conhecidos no Brasil, que é o que acontece quando Percy fala algo sobre "um crioulo comendo melancia" ou quando alguém chama John de "Sambo" (para entender do que estou falando, clique aqui). Também estão presentes na história o abandono e os maus-tratos cometidos contra pessoas idosas.
Pode parecer difícil "entrar" nesse ambiente, porque no início, Paul nos dá muitas explicações sobre como funcionam as coisas na penitenciária, qual o trabalho realizado por ele e seus companheiros e outras coisas do tipo. Eu comecei a leitura devagar, mas depois de certa altura, não queria mais largar o livro, e estava louca para chegar ao fim.
Gostei de toda a história, principalmente do que acontece a partir da Parte Quatro. O jeito que a história se desenrola é surpreendente (em especial os "milagres" citados na sinopse), e alguns dos momentos de tensão foram tão bem escritos que parecem acontecer em câmera lenta, como em um filme. O final da história sobre John Coffey é emocionante, mas não é o verdadeiro fim; Paul ainda tem coisas a nos contar. É nas últimas páginas do livro que ele termina de escrever suas lembranças, que nós conhecemos um segredo que ele guardava em um galpão próximo ao asilo, e descobrimos também a sua idade: eu fiquei realmente intrigada sobre quantos anos ele teria em 1932, e até quantos anos teria vivido. Só o que posso dizer a vocês é que isso faz parte do encanto da história.
Mas o que me desagradou foi ter encontrado um grande erro de cálculo que não sei como pode ter passado despercebido para Stephen King, para sua editora nos Estados Unidos, e também para a editora brasileira. No fim, Paul nos conta um acontecimento do ano de 1956, quando ele tinha 64 anos, e sua esposa Janice, 50. Fazendo as contas, descobrimos que na época em que tudo aconteceu (1932) Janice tinha apenas 26 anos. Até aí, tudo bem. Acontece que mais de uma vez ele nos conta que em 1932, ele e Janice tinham dois filhos já adultos, e isso é incompatível com a idade dela. Não existe nenhuma explicação quanto a esse fato, nenhuma menção a crianças adotadas; não podemos nem mesmo acreditar que os dois filhos sejam fruto de um primeiro casamento dele, já que ele diz que são filhos seus e de Janice. Outra coisa que me incomodou é que a fonte usada no texto ficou muito pequena, e pode atrapalhar bastante quem tem problemas de vista. A edição ainda contém alguns erros de escrita ocasionais, mas que não atrapalham nem prejudicam a leitura. Foi apenas essa grande falha que fez com que eu não desse cinco estrelas para o livro. 

Aspectos positivos: os personagens são bem escritos; os momentos de clímax da história são emocionantes; a descoberta proporcionada ao leitor é surpreendente, inesperada e muito bem planejada; a edição inclui textos escritos explicativos e muito interessantes escritos por Stephen King.
Aspectos negativos: a edição contém erros de escrita e um grande erro de cálculo.

Avaliação geral:


Por: Lethycia Dias

9 Comentários

  1. Oi, Lethy!
    Eu sou bem fã do King, mas ainda não li esse livro e nem vi a adaptação. Porém espero reparar logo esse erro hahhahah
    Beijos
    Balaio de Babados

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    1. Oi, Luiza! Ainda foi só minha segunda leitura, mas eu adorei, e já to ansiosa para começar o próximo livro dele (que ainda não sei qual vai ser, e nem quando). Recomendo muito esse! E vou assistir o filme assim que possível...

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  2. uauu!! minha mana ,tem todos os livros dele,são maravilhosos!! eu li esse a muitos anos e até hoje lembro.
    seu blog é maravilhoso!!!
    http://escreverdayse.blogspot.com.br/

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    Respostas
    1. Olá, Dayse!
      Por enquanto estou descobrindo Stephen King, esse foi só o segundo livro dele que li. Pelo visto, você e sua irmã devem gostar bastante!
      Muito obrigada pelo elogio, volte sempre para conferir as novidades toda segunda, quarta e sexta!

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  3. Nossa que maravilhoso, já li o A coisa dele sensacional, sou super fã.

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    1. Ahhh, eu já ouvi falar tanto de "A Coisa"! Mas no momento estou mesmo é com vontade de ler "Sob a redoma", porque to assistindo a série e adorando...

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  4. Um pouco atrasado para comentar aqui mas quem sabe alguém veja né kk. Sobre a idade dele não ser compatível com as contas, o filme oferece uma explicação, la ele é um idoso contando toda a história para uma colega de asilo, no final do filme ela faz a ele essequestionamento sobre a idade da esposa e dos filhos que não fecha a conta, ele então diz a ela:" a conta não bate né?"

    Acredito que esse erro foi intencional para demonstrar certa senilidade do Paul Edgecomb com tantos anos nas costas.

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  5. Alguem sabe informar a data da morte de Paul Edgecomb o guarda eatrelado por ton hanks acho q é assim q se escreve

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