"As humanidades, a cultura, a cidade e o sertão estão entre os temas mais recorrentes de As dores de Josefa. A antologia de contos e crônicas da Coleção e/ou publica 27 contos e crônicas de 14 autores e autoras selecionados sendo 11 inéditos. Além dos novos que se lançaram nessa coletânea, o livro também é composto por textos de autores convidados: Leonardo Teixeira, Wigvan Pereira, Cristiano Deveras e Larissa Mundim. Para leitores e leitoras interessados em novos talentos goianos."
Autor: autores diversos
Gênero: Conto/Crônica
Número de páginas: 184
Local e data de publicação: Goiânia, 2016
Editora: Nega Lilu
Onde comprar: Site da editora
Dores que são caladas
Algumas semanas atrás, um colega da faculdade me convidava para um evento no Facebook. Era o lançamento do livro As dores de Josefa, do qual o meu colega, Bruno Fiuza, participaria com um conto. Não pude ir ao lançamento, mas quase três semanas atrás recebi um presente inesperado: um exemplar do livro. Foi por isso que tratei de passá-lo na frente de vários outros livros para que pudesse ser lido o mais rápido possível. E aqui estão as minhas impressões sobre essa leitura:
As dores de Josefa faz parte da Coleção e/ou, que integra um coletivo cultural de mesmo nome, criado pela Editora Nega Lilu. É também resultado de uma seleção de contos, crônicas e poesias de novos escritores goianos, organizada entre 2014 e 2015. Neste volume, estão os textos em prosa. Em Os olhos do bilheteiro está a poesia.
A maior parte dos textos foram selecionados no edital promovido pela editora, enquanto alguns são escritos por autores convidados, já conhecidos no cenário da literatura contemporânea em Goiás, como Cristiano Deveras, cujo livro O etéreo ser de Carbono já foi resenhado aqui.
Embora eu acredite que não houvesse uma temática pré-definida quando a editora fez a seleção dos textos, é possível notas uma unidade entre eles: o contraste entre modernidade e tradição, cidade e interior. Vejamos alguns dos textos: o encanto de um sertanejo ao ouvir rádio pela primeira vez; o empregado que arma uma tocaia contra o patrão; a relação peculiar entre duas garotas; a espera por um cachorro que fugiu de casa; os esforços de um poeta que sonha em escrever o menor poema do mundo; a busca de um homem por uma mulher que viu em um lugar desconhecido; os anseios de uma mãe solitária; uma família em dia de festa; a rotina de um universitário preguiçoso; a vida de uma mulher que nunca mandou no próprio destino. Quanto às crônicas, são todas extremamente poéticas, em diversos sentidos, e extremamente encantadoras.
Foto compartilhada no meu Instagram durante a leitura. Visite @lethyd ou @loucuraporleituras e acompanhe! |
"Quisera escrever o menor poema do mundo. O singelo e ínfimo: poema-detalhe.
Capaz de comover as almas mais desiludidas: poema-salvação.
Mais proverbial que qualquer aforismo: poema-síntese."
Ensaio sobre o menor poema do mundo - Larissa Mundim. Página 74
Existe neste livro uma grande e rica variedade de escrita. Embora haja vários temas recorrentes, essas narrativas são bastante diferentes umas das outras. Se umas chocam, outras encantam. Se umas recriam a simplicidade da vida interiorana, outras quebram a expectativa do leitor com acontecimento completamente inesperado e fora de contexto, fechando a história com chave de ouro. É, por exemplo, o caso de O rádio, em que o pobre sertanejo enganado por um mascate se assusta com o que ouve na caixa preta falante; algo parecido acontece com Porcada.
Algumas dessas histórias, de tão singelas, vem nos deixar com aquele sorrisinho de quem acaba de ver beleza em algo absolutamente comum: é assim com O farsante, Piquenique, O café Paris, O filósofo e A melhor coisa do mundo. Outras se destacam pela ironia com se que se propõe a retratar certos hábitos comuns na sociedade: são Lanche e Cotidiano. Outra forma de ironia, das que fazem a gente rir, está presente em Ensaio sobre o menor poema do mundo. E há ainda histórias que, de tão tristes, talvez não possam ser esquecidas; é assim que me sinto em relação Mãe Mônica e Sertão pequeno. Este segundo conto é, posso dizer, uma das coisas mais tristes que já li na vida.
Também está muito presente no livro a cultura rural, o que se justifica, talvez, pelas raízes de estados da Região Centro-Oeste, como Goiás (lembrando que é uma coletânea de escritores goianos), embora nem todas as narrativas sejam ambientadas em Goiás. A linguagem coloquial é o principal aspecto desses contos. Aqui, destaco: O rádio, Tocaia e Sertão pequeno.
Dessa forma, As dores de Josefa se constitui como uma rica coleção de escritos contemporâneos de múltiplos sentidos, capaz de mostrar o talento de novos escritores da atualidade. Recomendo este livro para quem gosta de descobrir novos escritores e para quem se interessa pela literatura contemporânea.
E, para finalizar: é um livro muito bonito, com uma arte de capa maravilhosa feita por Beatriz Perini. Em toda a edição, percebe-se um grande carinho e cuidado na aparência deste livro. Minha única queixa é em relação à falta da sinopse, que não está presente no livro. Para fazer essa resenha, precisei buscá-la no site da editora, e só então pude incluir essa informação essencial na página do livro no Skoob.
Avaliação geral:
Onde comprar:
Aspectos positivos: representa o cenário da literatura contemporânea brasileira; as narrativas apresentam grandes contrastes da nossa sociedade; alguns dos contos apresentam uma virada inesperada no final; o regionalismo e o coloquialismo valorizam a cultura rural.
Aspectos negativos: a edição não contem a sinopse do livro.
Por; Lethycia Dias