"Neste longo texto ficcional em forma de monólogo, Clarice se confunde com a personagem, uma solitária pintora que se lança em infinitas reflexões sobre o tempo, e a vida e a morte, os sonhos e visões, as flores, os estados da alma, a coragem e o medo, e, principalmente, a arte da criação, do saber usar as palavras num jogo de sons e silêncios que se combinam. Tudo é revelado através do olhar dessa pintora-narradora, que cai em estado de graça em plena madrugada."
Autora: Clarice Lispector
Gênero: Monólogo
Número de páginas: 96
Data e local de publicação: Rio de Janeiro, 1998
Editora: Rocco
Pensamentos inconstantes
Na semana passada, postei no Instagram uma foto desse livro, falando que tive acesso à leitura graças a um amigo da faculdade que decidiu me emprestá-lo. Eu senti que tinha nas mãos um desafio: em primeiro lugar, porque nunca li um texto parecido com o de Água Viva, e em segundo, porque tenho grande dificuldade para ler livros da Clarice Lispector, e posso até dizer que isso acabou se tornando uma espécie de medo. E em algum momento, temos que encarar nossos medos, não é mesmo?
Para falar sobre esse livro, preciso em primeiro lugar repetir que é o texto ficcional mais diferenciado que já li, e que por isso mesmo é muito difícil classificá-lo de forma definitiva. Trata-se de um texto corrido sem divisão de capítulos e sem enredo aparente numa primeira análise. Temos, apenas, uma personagem que não se identifica e que escreve para outra pessoa, provavelmente um homem com quem ela já teve uma relação íntima.
Nesse texto, que pode ser chamado de monólogo, a personagem e narradora escreve tudo que lhe vem à mente, conforme as ideias surgem, num fluxo de pensamento ininterrupto. Enquanto lemos, é constante a sensação de que é um texto que ainda está sendo construído, como se a narradora estivesse no mesmo momento sentada em frente à sua máquina de escrever, datilografando palavra por palavra, no mesmo ritmo em que nossos olhos percorrem as páginas. Não é um texto editado, organizado numa ordem lógica, clara e coerente. São pensamentos esparsos, que não têm início ou fim definidos, e que mudam de tom ou se assunto repentinamente.
A narradora se deixa levar por seus próprios pensamentos e sentimentos durante horas, e mesmo quando finaliza seu texto, sabe que ele ainda não está realmente terminado.
Ao mesmo tempo, é possível identificarmos uma "segunda dimensão" do texto, na qual imaginamos esta mulher, uma pintora que tenta exprimir pensamentos por meio da escrita, porque não consegue dar vazão a eles por meio da fala. Tentamos imaginar sua vida, as pessoas que conhece, o que faz, como pensa e como lida com todas as questões sobre as quais reflete. Não é fácil chegar a uma conclusão sobre ela, assim como também não é fácil interpretar o que ela diz.
Confesso que foi uma leitura difícil e que este livro vai me exigir muitas releituras para o futuro, provavelmente quando eu tiver mais experiência lendo Clarice.
O livro é narrado em primeira pessoa pela personagem que não se identifica, e sobre a qual todos sabemos. Não é um livro dividido em partes ou capítulos. Todo o texto é apresentado de uma vez, sem interrupções. Como afirmei acima, é um texto em forma de fluxo de pensamento. Por isso, eu recomendo que a leitura seja feita sem pausas, para que seja mais fácil a imersão no texto.
As reflexões da personagem-narradora são extramente profundas, e podem nos despertar muitos questionamentos. Podemos nos pegar pensando nos assuntos sobre os quais ela divaga ou também refletindo sobre outras coisas. É, sobretudo, um livro que exige imersão. Um livro que deve ser lido quando não se tem nenhuma outra preocupação ou pensamento urgente, para que possamos mergulhar no texto.
É um livro pequeno, com menos de cem páginas, mas não significa que será lido rapidamente. É preciso tempo para absorver o que diz cada frase, cada parágrafo. Enquanto lia, eu estava fazendo vários trabalhos da faculdade, e por isso levei quase uma semana. A constante interrupção da leitura me prejudicou um pouco, pois eu me via perdida em meio ao texto, sem saber exatamente onde tinha parado e qual era o assunto anterior.
Quem já leu livros da Clarice Lispector sabe que ela tinha seu estilo próprio e que sua literatura é muito característica. Para quem não conhece, isso pode causar certo estranhamento, devido ao caráter intimista, que faz com que narradora se confunda com autora, além da interrupção de pensametos e do uso de expressões um tanto curiosas e inesperadas. Aqui, foi o "it", que se repete durante o monólogo.
Recomendo para quem goste de livros com literatura intimista e também para quem já conhece ou tem vontade de conhecer a escrita da Clarice Lispector.
Para falar sobre esse livro, preciso em primeiro lugar repetir que é o texto ficcional mais diferenciado que já li, e que por isso mesmo é muito difícil classificá-lo de forma definitiva. Trata-se de um texto corrido sem divisão de capítulos e sem enredo aparente numa primeira análise. Temos, apenas, uma personagem que não se identifica e que escreve para outra pessoa, provavelmente um homem com quem ela já teve uma relação íntima.
Nesse texto, que pode ser chamado de monólogo, a personagem e narradora escreve tudo que lhe vem à mente, conforme as ideias surgem, num fluxo de pensamento ininterrupto. Enquanto lemos, é constante a sensação de que é um texto que ainda está sendo construído, como se a narradora estivesse no mesmo momento sentada em frente à sua máquina de escrever, datilografando palavra por palavra, no mesmo ritmo em que nossos olhos percorrem as páginas. Não é um texto editado, organizado numa ordem lógica, clara e coerente. São pensamentos esparsos, que não têm início ou fim definidos, e que mudam de tom ou se assunto repentinamente.
A narradora se deixa levar por seus próprios pensamentos e sentimentos durante horas, e mesmo quando finaliza seu texto, sabe que ele ainda não está realmente terminado.
Ao mesmo tempo, é possível identificarmos uma "segunda dimensão" do texto, na qual imaginamos esta mulher, uma pintora que tenta exprimir pensamentos por meio da escrita, porque não consegue dar vazão a eles por meio da fala. Tentamos imaginar sua vida, as pessoas que conhece, o que faz, como pensa e como lida com todas as questões sobre as quais reflete. Não é fácil chegar a uma conclusão sobre ela, assim como também não é fácil interpretar o que ela diz.
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| Foto compartilhada no meu Instagram durante a leitura. Visite @lethyd ou @loucura por leituras e acompanhe! |
"Escrevo-te este fac-símile de livro, o livro de quem não sabe escrever;
mas é que no domínio mais leve da fala quase não sei falar.
Sobretudo falar-te por escrito, eu que me habituei a que fosses a audiência,
embora distraída, de minha voz."
Página 54.
Confesso que foi uma leitura difícil e que este livro vai me exigir muitas releituras para o futuro, provavelmente quando eu tiver mais experiência lendo Clarice.
O livro é narrado em primeira pessoa pela personagem que não se identifica, e sobre a qual todos sabemos. Não é um livro dividido em partes ou capítulos. Todo o texto é apresentado de uma vez, sem interrupções. Como afirmei acima, é um texto em forma de fluxo de pensamento. Por isso, eu recomendo que a leitura seja feita sem pausas, para que seja mais fácil a imersão no texto.
As reflexões da personagem-narradora são extramente profundas, e podem nos despertar muitos questionamentos. Podemos nos pegar pensando nos assuntos sobre os quais ela divaga ou também refletindo sobre outras coisas. É, sobretudo, um livro que exige imersão. Um livro que deve ser lido quando não se tem nenhuma outra preocupação ou pensamento urgente, para que possamos mergulhar no texto.
É um livro pequeno, com menos de cem páginas, mas não significa que será lido rapidamente. É preciso tempo para absorver o que diz cada frase, cada parágrafo. Enquanto lia, eu estava fazendo vários trabalhos da faculdade, e por isso levei quase uma semana. A constante interrupção da leitura me prejudicou um pouco, pois eu me via perdida em meio ao texto, sem saber exatamente onde tinha parado e qual era o assunto anterior.
Quem já leu livros da Clarice Lispector sabe que ela tinha seu estilo próprio e que sua literatura é muito característica. Para quem não conhece, isso pode causar certo estranhamento, devido ao caráter intimista, que faz com que narradora se confunda com autora, além da interrupção de pensametos e do uso de expressões um tanto curiosas e inesperadas. Aqui, foi o "it", que se repete durante o monólogo.
Recomendo para quem goste de livros com literatura intimista e também para quem já conhece ou tem vontade de conhecer a escrita da Clarice Lispector.
Avaliação geral:
Onde comprar:
Aspectos positivos: possibilita a imersão e diversas reflexões; por ser um livro curto, pode ser lido em apenas um dia.
Aspectos negativos: a falta de divisões no texto e as interrupções de assuntos podem confundir o leitor.
Por: Lethycia Dias
Oi, Leth.
ResponderExcluirEu já tive experiência de ler novelas e também contos da Clarice, e concordo com vc que precisa ser uma leitura de imersão, pois é um texto denso, inclusive os contos. De todos os livros da Clarice, sempre me falam que esse é o mais difícil, eu só li A hora da estrela que achei mais "fácil".
Bjs
Oi, Hel! Eu gostaria muito de conversar com alguma pessoa que entenda melhor a obra dela e que saiba me indicar por onde começar, porque realmente não é fácil. Se nos contos já fiquei perdida... Lembro que a primeira vez que li A Hora da Estrela eu não entendi nada!
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