Talvez nem todo mundo que acompanha o blog saiba disso, mas sou estudante de Jornalismo. Estou no quarto período do curso na Universidade Federal de Goiás, e posso dizer que sou apaixonada pela profissão que escolhi. Na faculdade, já li diversos livros que me orientaram durante as disciplinas e me ajudaram a compreender melhor o que é o Jornalismo, quais as características de suas diferentes modalidades, quais são as contradições da imprensa, entre outras questões. Essa base teórica tem sido diferencial para mim.
É por isso que decidi indicar alguns livros aqui no blog. Esse post faz parte de Sessão 10 e é destinado a quem sonha em ser jornalista, a quem está entrando no curso de Jornalismo agora, a quem tem curiosidade sobre o jornalismo ou apenas sobre alguns dos assuntos que citei no parágrafo anterior.
10 livros para entender melhor o Jornalismo
1- Teorias do Jornalismo: Por que as notícias são como são - Nelson Traquina
Foi um dos primeiros livros com os quais tive contato, assim que entrei na faculdade. Nesse livro, o jornalista português Nelson Traquina faz um apanhado de informações sobre a história do Jornalismo, sua profissionalização, sua relação com os regimes democráticos e a liberdade de expressão e algumas das principais teorias que fazem com que os jornais, revistas, emissoras de TV e rádio funcionem como funcionam hoje, e para que as notícias sejam escritas e divulgadas da forma como são: quais critérios definem um fato como "digno de virar notícia", quem definira tais critérios, a (não) existência da imparcialidade e da objetividade, a influência das relações econômicas e comerciais sobre os veículos de comunicação. Não é uma tentativa de dizer qual dessas teorias está "certa" - até porque, elas se complementam - mas sim de fornecer reflexões.
2- Linguagem Jornalística - Nilson Lage
Talvez você não tenha percebido, mas o Jornalismo utiliza uma linguagem específica. Comece a reparar nos telejornais: a linguagem é formal, porém com alguns traços de coloquialismo, para que possa ser melhor compreendida pelo maior número possível de pessoas. Os tornais impressos e revistas costumam ser mais formais que a televisão, mas sem serem rebuscados. Alguns, como a Folha de São Paulo, têm os próprios manuais de redação que orientam os profissionais até mesmo de outros veículos. Neste livro, Nilson Lage explica o que é, porque e como deve ser seguida essa linguagem para garantir que as notícias sejam mais claras e compreensíveis.
3- Estrutura da Notícia - Nilson Lage
Se você encontrasse um recorte de uma notícia em uma gaveta ou pasta na sua casa, você reconheceria o texto como uma notícia, mesmo que não houvesse nenhuma indicação de que aquele texto foi cortado de um jornal. Por que isso acontece? Porque os textos jornalísticos seguem uma estrutura mais ou menos uniforme, que facilita a clareza e a compreensão da informação. Essa estrutura é composta basicamente pelo lide, que é uma organização e hierarquização de informações de acordo com o que é mais importante. Nilson Lage traz esclarecimentos sobre essa estrutura jornalística, com um pouco de contextualização em relação á Revolução Industrial, que foi de grande importância para o Jornalismo.
4- A Prática da Reportagem - Ricardo Kotscho
Com apenas 80 páginas, A Prática da Reportagem é uma série de conselhos de Ricardo Kotscho, um dos mais importantes jornalistas brasileiros, para repórteres e jornalistas em geral. Para isso ele se baseia, principalmente, em experiências pessoais, e o livro pode ser visto como um curto guia de orientações para o Jornalismo. Aqui, estão presentes explicações de como lidar com situações desagradáveis como: uma pauta (aparentemente) desinteressante; a cobertura de feriados (Carnaval, Semana Santa, Finados, Natal, Ano Novo); a falta de assunto e a necessidade de produzir notícias. Ressalta que o reporter deve permanecer sempre atento à realidade ao eu redor, e ser criativo para saber identificar um assunto relevante que deve ser publicado ou transformar uma "pauta chata" em uma matéria surpreendente. As experiências do autor dizem respeito à época em que o Jornalismo brasileiro ainda não havia aderido ao uso do lide, e as notícias e reportagens eram escritas de maneira mais próxima à literatura. Entretanto, os conselhos e orientações do autor são extremamente válidos.
5- Perguntar Ofende! Perguntas cretinas que jornalistas não podem fazer - José Nello Marques
Ficou curioso(a) com o título? Esse livro é sobre aquela situação infeliz em qe o repórter pergunta como estão se sentindo os familiares de uma pessoa que morreu, entre outras perguntas "idiotas" que aparecem nas entrevistas e reportagens. Ao longo de 116 páginas e dividido entre os diversos assuntos que o jornalismo costuma abordar, o livro de José Nello Marques pode ser considerado como um guia daquilo que o jornalista não deve fazer. O autor cita situações embaraçosas, ilustrando-as com exemplos reais, dando sugestões de como evitar gafes e buscando explicações para a frequência com que as "perguntas cretinas" são feitas. Além disso cita também as opiniões e conselhos de diversos profissionais experientes.
6- Entrevista: O Diálogo Possível - Cremilda Medina
Neste ensaio dividido em 15 curtos capítulos, além do glossário e da bibliografia, Cremilda Medina apresenta suas ideias a respeito da entrevista, técnica fundamental para obtenção e checagem de informações no Jornalismo, tão importante que por vezes é o próprio produto jornalístico. Para a autora, quando as perguntas são feitas de forma fria e a edição é malfeita, a entrevista não consegue alcançar a pretensão de ser uma "conversa" natural entre o repórter e o entrevistado. A autora contesta a maneira de se fazer, conduzir, editar e publicar entrevistas na imprensa brasileira. Segundo ela, as entrevistas são conduzidas de forma autoritária, e são pautadas por relações de poder entre entrevistador e entrevistado. É preciso abandonar este modelo. São feitas comparações com a entrevista feita como fonte de pesquisa nas Ciências Sociais, e autora aponta por quais motivos o Jornalismo não atinge a mesma excelência nesse trabalho.
7- Padrões de Manipulação na Grande Imprensa - Perseu Abramo
O ensaio de Perseu Abramo, escrito em 1988, é acompanhado por apresentação de José Arbex Jr. e prefácio de Hamilton Octavio Souza. Em suas reflexões, Abramo afirma a todo momento que grande parte daquilo que publica na imprensa brasileira é manipulado. Abramo classifica a manipulação feita pela mídia em padrões ilustrados com exemplos reais: 1) ocultação; 2) fragmentação; 3) inversão; 4) indução; e 5) global específico de televisão e rádio. Abramo ainda discorre sobre os conceitos de objetividade e subjetividade no Jornalismo, e tenta explicar o significado político da manipulação, tentando chegar ao motivo que leva os empresários da comunicação a manipular a informação. O livro pode parecer um tanto tendencioso, mas os apontamentos são extremamente válidos se encarados com certo distanciamento.
8- O Estilo Magazine: O texto Em Revista - Sérgio Villas Boas
Jornais impressos e revistas impressas são diferentes. Publicados diariamente, os jornais tem um compromisso com o factual. As notícias são curtas, a não ser que a relevância do assunto exija um tamanho maior. Nas revistas, publicadas semanalmente, quinzenalmente ou até mensalmente, o factual deixa de ter tanta importância e dá lugar à análise, à reflexão. As imagens têm mais destaque e é possível ter uma grande variedade de conteúdos.
Dividido em quatro partes e diversos capítulos, O Estilo Magazine procura fazer uma reunião de todas as características mais marcantes do trabalho jornalístico em revistas, indo desde a linguagem e estilo do texto até o uso de fotos, a semelhança com a literatura, entre outros aspectos, todos abordados de maneira detalhada em cada capítulo. Inclui, no fim, duas reportagens em revista de excelente qualidade.
9- Jornalismo Investigativo - Leandro Fortes
Pense naquela reportagem exclusiva de algum jornal, revista ou emissora de TV que acabou por revelar um esquema de corrupção ou qualquer coisa do tipo. Existem vários exemplos. Tais reportagens chamam a atenção e criam um imenso glamour em torno do "jornalismo investigativo". Mas o jornalismo não, é por si só, investigação, seja para falar sobre o esquema de lavagem de dinheiro ou sobre a falta de medicamentos no hospital público? Não é preciso, em qualquer espécie de jornalismo, checar os fatos e informações? Neste livro, Leandro Fortes traz elucidações sobre o que é esse ramo especializado do Jornalismo que tem tanto prestígio e quais seus dilemas éticos, e ainda traz um importante questionamento: quando, afinal, a investigação deixou de ser um princípio básico do Jornalismo para se tornar um ramo especializado.
10- Imprensa Feminina - Dulcília Schroeder Builtoni
Aqui, o tema principal são os jornais e revistas voltados para o público feminino. Sim, estamos falando de revistas como Cládia, Marie Claire, Nova, entre outras. A autora apresenta o contexto de surgimento de algumas dessas publicações voltadas para mulheres - que no início, eram feitas por homens que escreviam sobre aquilo que consideravam ser adequado e interessante para mulheres. Existe um importante questionamento sobre a necessidade do '"rótulo imprensa feminina": afinal, moda, decoração, beleza e maternidade são os únicos assuntos que interessam às mulheres? E os outros assuntos (política, economia, esportes, atualidades, ciência, entre outros), por que são chamados apenas de "imprensa" e não de "imprensa masculina"? Por que os assuntos ditos "femininos" não são chamados apenas de "imprensa" como todos os outros?
Essa é apenas uma pequena seleção de alguns títulos que considero válidos para estudos. Se você também está na faculdade de Jornalismo, imagino que já deve ter lido ou pelo menos ouvido falar de alguns deles. Caso contrário, essa é uma boa oportunidade para conhecer bons autores, enriquecer sua experiência e ampliar suas reflexões. Se você é apenas um(a) curioso(a), as indicações também são bastante válidas para aumentar seu conhecimento.
Por: Lethycia Dias