Que tal aproveitar o clima de sexta-feira com um pouco de música? E melhor ainda se essa música vem acompanha por um pouco de literatura, não é mesmo? Pois é! Se você chegou ao Loucura Por Leituras por acaso, saiba que essa é uma coluna criada há pouco tempo no blog.
A ideia principal é falar de algumas músicas que se destacam pelo fato de contarem histórias. A partir daí, eu falo um pouco sobre o que essas músicas significam para mim, e como eu imagino que seria um livro baseado em cada uma delas.
A música que escolhi para hoje é Maria Rosa, interpretada pela Elis Regina.
Um conselho às Marias de agora
Assim como no último post da coluna, acredito que a música que escolhi não é muito conhecida pelo público do blog, que é composto principalmente por pessoas jovens. Mas, por isso mesmo, recomendo que continuem lendo, para poderem conhecer uma música muito poética e cheia de sensibilidade.
Maria Rosa é uma canção comporta originalmente pelo cantor e compositor gaúcho Lupicínio Rodrigues (1914 - 1974). Ele nasceu viveu a maior parte de sua vida em Porto Alegre, e compôs marchinhas de carnaval e sambas-canção. Suas músicas são conhecidas por expressarem muito os sentimentos, especialmente a melancolia e os amores perdidos. Aliás, dizem que foi ele quem inventou a expressão "dor de cotovelo", que diz respeito a quem apoia os cotovelos sobre o balcão do bar enquanto bebe e chora pela perda da pessoa amada.
A música que escolhi para hoje é exatamente como outras canções pelas quais Lupicínio Rodrigues foi conhecido: bastante melancólica. Na voz de Elis Regina, ela passa a ter um tom extremamente nostálgico, e fica ainda mais triste. Ouça pelo vídeo, e leia a letra abaixo:
Vocês estão vendo aquela mulher de cabelos brancos
Vestindo farrapos, calçando tamancos
Pedindo nas portas pedaços de pão
A conheci quando moça, era um anjo de formosa
Seu nome é Maria Rosa, seu sobrenome Paixão
Os trapos de sua veste não é só necessidade
Cada um para ela representa uma saudade
Ou de um vestido de baile ou de um presente talvez
Que algum de seus apaixonados lhe fez
Quis certo dia Maria pôr a fantasia dos tempos passados
Essa mulher que outrora a tanta gente encantou
Nem um olhar teve agora, nem um sorriso encontrou
Então dos velhos vestidos que foram outrora sua predileção
Mandou fazer esta capa de recordação
Vocês, Marias de agora, amem somente uma vez
Pra que mais tarde essa capa não sirva em vocês
A letra conta a história dessa mulher chamada Maria Rosa, que na juventude foi muito bonita e viveu o amor intensamente, tendo muitos admiradores. Ao envelhecer, porém, Maria perde a admiração dos homens, e aparentemente, também da família e dos amigos, e conserva a nostalgia pelos tempos de sua juventude, quando foi feliz. É o tipo de música que poderíamos imaginar na trilha sonora de um filme ou novela, justamente no momento em que o(a) personagem se sente sozinho(a) e bebe ou lamenta sua tristeza. O tom da música é muito parecido com o de Dois pra lá, dois pra cá.
Talvez vocês não saibam, mas tenho insônia. Muitas vezes, vou me deitar e demoro a dormir, simplesmente não sinto sono; há também vezes em que acordo no meio da noite, e levo muito tempo para voltar a dormir; ou então, acordo muito mais cedo do que deveria, sem ter planejado fazer isso e sem nenhuma necessidade. Entre vários métodos caseiros que supostamente ajudam a dormir, o único que parece funcionar bem comigo é ouvir música. Então, eu pego meu celular e sintonizo na Rádio Executiva, uma das poucas rádios em Goiás que não tocam sertanejo ou música gospel. Na Executiva, eu ouço desde MPB até música clássica e um pouco de blues e jazz, além de rock. É tudo de bom.
Nessas noites de insônia, quando ligo meu rádio e coloco meu fone de ouvido, eu descubro muitas músicas maravilhosas. Na maioria das vezes, não sei o nome delas, então minha maior preocupação nesses momentos é sempre de abrir o bloco de notas do celular e anotar algum trecho da letra, para poder pesquisar depois. Foi assim que ouvi Maria Rosa pela primeira vez.
Enquanto ouvia, eu não sabia que estava sendo interpretada por Elis Regina. Mas eu me lembro de estar como geralmente fico nessas horas: deitada de lado, com o fone em apenas um dos ouvidos, de olhos fechados, sentindo a melodia e me emocionando com a letra. Enquanto ouvia, eu apenas conseguia imaginar toda a solidão de uma pessoa que tivesse vivido assim. Muitos amores na juventude; nenhuma companhia ou afeto durante a velhice. Foi isso que me tocou nessa música. "Essa mulher que outrora a tanta gente encantou / Nem um olhar teve agora, nem um sorriso encontrou".
Se essa música desse origem a um livro, eu imagino que toda a juventude alegre de Maria Rosa seria contada. Imagino que ela poderia ter vivido nos anos 1930 ou 1950, e que teria frequentado muitos bailes em estabelecimentos onde antigamente as pessoas iam especialmente para dançar. Imagino que a história provavelmente seria contada na terceira pessoa, por um narrador-personagem que a teria conhecido bem, ou talvez por um narrador onisciente. Seriam narrados os amores da juventude de Maria Rosa, e então, numa segunda parte, descobriríamos o que aconteceu a essa mulher para que terminasse sua vida completamente sozinha, vivendo da caridade alheia e carregando consigo as lembranças dos tempos de sua glória, quando ela foi admirada por todos que a conheceram.
Certamente, seria uma história com final triste, a não ser que o possível narrador-personagem que a conheceu no passado, não importa quem seja (um antigo amorado, uma amiga) aproveitasse o reencontro inesperado e levasse um pouco de companhia e conforto para ela.
Imagino que essa história seria contada de maneira ideal em um livro de memórias; a narrativa não precisaria necessariamente seguir a ordem cronológica, podendo alternar entre vários períodos da vida da personagem. Seria uma história cheia de sentimento, que provavelmente deixaria muitas pessoas com uma forte ressaca literária.
Agora, não me vem à mente nenhum livro com história parecida. Caso você, que está lendo esse post, conheça algum, seria muito legal comentar comigo!
Essa foi mais uma edição do Essa música daria um livro. O que você achou do post? Conhecia a música? Gostaria de ler uma história como essa? Tem alguma sugestão para futuros posts? Não deixe de comentar ali embaixo!
Por: Lethycia Dias
Muito legal trazer algo sobre essa excelente intérprete que foi Elis Regina. Faço parte do público jovem, tenho apenas 37 anos (kkk).
ResponderExcluirPode pedir música? Então sugiro Infinita Highway dos Engenheiros do Havaí.
Abraço!
Olá, Dan! Se você, com 37 anos se sente meio "deslocado" por gostar dela, imagina uma pessoa da minha idade? Tenho só 19! haha
ExcluirAgradeço pela sugestão da música. A primeira que usei no projeto foi dos Engenheiros, então talvez demore um pouquinho pra sair o post sobre essa. Mas mesmo assim, agradeço muito!
Estou conhecendo o blog ainda, mas simplesmente adorei a ideia. A música é, de fato, melancólica. Mas é muito gostosaaa. Adorei.
ResponderExcluirACESSO PERMITIDO. ♥
www.acessopermitido.com
Olá, Elcimar! Vejo que está gostando do blog, porque já notei vários comentários seus nos últimos posts, e fico feliz que esteja curtindo!
ExcluirAdoro essa música, sou uma grande admiradora do trabalho da Ellis e quando você começou a falar de como seria a história que essa música daria, eu concordo totalmente com você. Engraçado que até a época a gente pensou igual, ela tem cara de alguém que era jovem lá na década de 30. XD
ResponderExcluirOlá, Jade! O que usei para imaginar a época foi baseado em referências que temos de novelas, filmes e livros. Então imaginei que a história deveria se passar ainda no século XX, mas algumas décadas atrás. É muito legal saber que outra pessoa também imaginou assim!
ExcluirOi, Lethycia :)
ResponderExcluirTudo bem?
Elis Regina tem uma voz encantadora. Gosto muito dela e da Marisa Monte.
Elas são incríveis. É um tipo de música que inspira.
Sucesso bom o blog.
Beijo,
Hida
www.blogdahida.com
Olá, Hida!
ExcluirMinha mãe adora a Elis! Confesso que não conheço muito sobre ela, mas minha mãe adora, e volta e meia me pego ouvindo "Como nossos pais". Agora a Marisa Monte eu conheço muito bem e simplesmente adoro! Ela é maravilhosa!