Confira!

Resenha: 1835 Amor e Revolução"Você acredita que o amor é verdadeiro e puro, é capaz de sobreviver aos anos de distância e solidão? Jessie acreditou. Uma menina delicada e inteligente criada pelo seu pai, seu único e grande amor. Porém, aquele mundo de contos de fada desaba sobre sua cabeça, diante dos rumores de guerra. Uma guerra que mudaria o seu destino, uma guerra que além de tirar sua alegria lhe faria conhecer o amor entre um homem e uma mulher. Em 1835 Amor e Revolução, você ri, chora, se emociona e torce muito para que o amor ao tempo, a dor e principalmente a guerra."

Autora: Bay Vidal
Gênero: Romance de época
Data de publicação: 2016
*Livro cedido em versão digital pela autora.
** Número e páginas indisponível

Um propósito que não foi alcançado


Fiquei muito empolgada quando uma colega da blogosfera me marcou em um post no qual a autora deste livro, Baby Vidal, procurava por blogueiros dispostos a resenhar 1835 Amor e Revolução. A proposta de um romance histórico despertou minha curiosidade, e o ano 1835, presente no título, me fez pensar imediatamente na Guerra dos Farrapos (ou Revolução Farroupilha), o que só aumentou a minha vontade de ler. Desde que li O Tempo e o Vento, fiquei fascinada pela cultura e História da região Sul do nosso país, em especial o Estado do Rio Grande do Sul. E foi por isso que eu quis resenhar o livro.
A protagonista dessa história é Jessie Ribeiro Schmitiz, uma jovem que vive um grande amor durante o tempo da Revolução. Décadas depois da guerra, ela vem nos contar sua história. Jessie nasceu na antiga Colônia de Conde d'Eu, que hoje é o município de Garibaldi (nome dado em homenagem a Giuseppe Garibaldi, um herói farroupilha), no interior do Rio Grande do Sul. Conde d'Eu foi uma colônia de imigrantes alemães e italianos, o que me fez pensar que essa provavelmente seria a origem de Jessie.
Órfã de mãe, Jessie foi criada pelo pai, Carlos Schmitz, um homem amoroso e dedicado, Capitão do Exército. Quando os militares em Porto Alegre começam a conspirar contra o Império, devido a uma cobrança de impostos abusiva, ele é convocado a ir para a Capital, e Jessie precisa ir com ele, dando adeus a tudo o que conhecia. Em Porto Alege, a jovem conhece uma nova rotina. Seu pai participa ativamente de reuniões de planejamento sobre a guerra, até o momento em que precisa partir definitivamente.
Porto Alegre está repleta de homens de diversas partes do Estado, incluindo rapazes jovens, que foram convocados para a guerra ou que se apresentaram voluntariamente. Um desses rapazes é Lúcio, um rapaz de origem nobre, que foi convocado contra a vontade, e que é designado pelo pai de Jessie para garantir sua segurança quando ele precisa se ausentar. Os dois se apaixonam, mas logo Lúcio parte para a guerra, e Jessie precisa aprender a lidar com a falta do pai e do namorado, e com o medo constante de perdê-los.

Foto compartilhada no meu Instagram durante a leitura.
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"Sempre que toco nesse assunto, todos aqueles dias me vêm à memória
com grande velocidade e riqueza de detalhes, que nem o tempo poderá apagar.
Memórias eternas, de coisas ruins, mas também de momentos maravilhosos e reais."

Infelizmente, na hora de ler esse livro eu fui com muita sede ao pote. Eu esperava por um romance histórico, e é assim que a autora caracteriza sua história, mas 1835 Amor e Revolução, na minha opinião, é na verdade um romance de época. Em um post do blog Livros & Fuxicos, li sobre a diferença entre esses dois subgêneros do romance. Em um romance histórico pode sim haver situações românticas, mas o foco principal está no efeito de determinados fatos históricos na vida dos personagens, ou como os personagens, agindo individualmente, contribuíram para determinado momento histórico. Um romance de época, mesmo sendo ambientado em outra década ou outro século e resgatar as características da época, terá o relacionamento entre os personagens como elemento principal. E o foco principal de 1835 Amor e Revolução é o amor de Jessie e Lúcio.
Digo isso porque os detalhes sobre a guerra aparecem com pouca frequência. Existem longas passagens em que Jessie fala sobre o medo que sentia de perder seu amado, sobre o sofrimento das mulheres que esperavam pelos pais, irmãos, maridos e filhos que haviam partido, sobre como a população passou a sofrer com a fome e os ataques de oficiais desonestos ou soldados desertores. Mas em meio a tudo isso, os pensamentos de Jessie sobre Lúcio são muito mais frequentes. Detalhes mais específicos sobre a guerra são poucos. No início do livro, por exemplo, há uma passagem em que Jessie é levada pelo pai a uma reunião no quartel, na qual estão alguns oficiais que participam da conspiração. A reunião em si não é narrada, e nenhum detalhe das discussões ou decisões é informado, como se Jessie simplesmente não tivesse estado lá e ouvido tudo. Também há uma passagem em que sabemos o que aconteceu com Lúcio quando esteve na guerra; mas nós só sabemos com clareza o que aconteceu com ele a partir de quando decidiu fugir. Não sabemos em que pelotão ou regimento ele estava, quem eram seus oficiais, por quais regiões ele passou e nem onde lutou.
Somente alguns fatos históricos sobre a Revolução são explicados, como o motivo para a guerra - que eu confesso que não sabia ou não me lembrava qual havia sido. Mas isso acontece de forma muito breve, em passagens ocasionais.
Me senti incomodada com algumas circunstâncias que me pareceram equivocadas. No início, Jessie menciona a existência de fotografias de seu pai e sua mãe. Entretanto, o daguerreótipo (primeiro processo fotográfico a ser amplamente divulgado) foi invetado no fim da década de 1830. Antes disso, vários cientistas fizeram experimentos e estudos relacionados à captação de imagens, mas creio que nada disso tenha chegado ao Brasil tão cedo, e mesmo que tenha chegado, eu acredito que essas "fotos" do pai e da mãe de Jessie não poderiam existir, pois elas aparentemente foram feitas antes de Jessie nascer, ou seja, um bom tempo antes de 1835. Outra coisa que me pareceu errada é a "cidade" de onde Jessie veio. Numa pesquisa rápida na internet, li que a Colônia de Conde d'Eu surgiu apenas em 1870, e que antes era uma região habitada apenas por povos indígenas. Mas em suas lembranças, Jessie se refere realmente a uma cidade. O fato de Jessie se referir ao seu local de origem o tempo inteiro como "Garibaldi" também me deixou bastante confusa. Talvez isso tenha acontecido pelo fato de ela estar contando sua história décadas depois de tudo ter acontecido, mas mesmo nos diálogos entre ela e outras pessoas, o nome usado é Garibaldi, o que é uma incoerência. Como poderiam usar um nome que ainda não existia para designar a tal cidade?
Eu também não consegui sentir empatia pelos protagonistas. Jessie e Lúcio se conhecem nos dias que antecedem a partida dele para a guerra, e tudo acontece muito rápido, mas eu acredito que a autora não trabalhou bem esses acontecimentos. As passagens em que os dois estão juntos são muito curtas, e a meu ver não descrevem momentos assim tão especiais para que os dois possam ter se apaixonado. Logo ele parte, prometendo voltar para ela, e ela decide esperar por ele. Jessie passa anos esperando por um homem que mal conhecia e que ela só beijou uma ou duas vezes. Ou seja, o romance, que é o principal elemento da história, não foi convincente pra mim.
Além disso, não gostei da linguagem usada pela autora. Por vezes, os diálogos tentam se adaptar à forma como as pessoas deveriam falar na época, usando termos como "Senhorita", etc. Mas ao mesmo tempo, os diálogos a própria narração utilizam palavras e expressões muito típicas da nossa forma de falar hoje em dia, e achei que isso descaracterizou o propósito da autora de fazer um resgate histórico. O texto também contém muitos erros, desde coisas simples como uma vírgula mal colocada ou a falta de uma crase, até a presença de verbos no tempo errado e a presença de frases mal-estruturadas que podem confundir o leitor.
Reconheço que a proposta de Baby Vidal com 1835 Amor e Revolução é muito boa. Nós estudamos muito pouco a História do Brasil, e há momentos dessa História que costumam cair no esquecimento. Fazer esse resgate é muito importante, ainda mais na literatura. Mas acredito que a Baby tenha falhado no propósito.
Eu recomendo o livro para quem gosta de romances em geral ou de romances e época. Falei acima que o envolvimento romântico dos protagonistas não me convenceu, mas eu não sou a pessoa mais indicada para falar de romance. Raramente me interesso pelo gênero e não costumo ler com frequência. Por isso, acredito que fãs de romance podem se interessar pela história, mesmo com todas as coisas que me desagradaram - que talvez nem sejam um incômodo para outras pessoas. E é por isso que deixarei abaixo o link para compra, caso alguém tenha se interessado.

Avaliação geral:


Aspecto positivo: A autora de propôs a resgatar um momento pouco lembrado da História do Brasil.
Aspectos negativos: O aspecto histórico é pouco abordado; é possível que circunstâncias e fatos históricos presentes na história estejam equivocados; o relacionamento entre os dois personagens não foi bem construído; o texto contém grande quantidade de erros.

Por: Lethycia Dias

2 Comentários

  1. Eu não tenho problema nenhum com leitores que não se identifiquem com a história, mas me vi na necessidade de pontuar as coisas que você negativou, então vamos lá:
    1- Jessie passou dos 70 anos, a cidade passou a se chamar Garibaldi em 1900, o que já é um grande motivo para ela usar tal refencia já que conta uma história passada.
    2- O pai de Jessie mudou-se pra região onde a mãe de Jessie viveu, a então colônia de Conde D'eu, que foi denominada assim em 1870 após a chegada dos alemães.
    3- Em romances de época, um beijo já era algo bem significativo, quando mais qualquer outro envolvimento
    4- O pano de fundo é a revolução, mas a história é focada em mostrar amor e esperança, e por isso, bastante focada em Jessie e Lúcio.
    5- Erros de virgula? Erros gramaticais? Pontue-os.
    6- Uma pessoa que não gosta de ler romance, pode ter sua resenha um tanto quando questionável, afinal, como vou questionar aquilo que não tenho costume de ler e conhecer?Ela menciona fotografia, porque a mesma surgiu no Brasil no ano de 1824, e quando ela conta a história, já passou de 1900, logo, ela menciona também imagens, que foi a forma que eram feitos os registros (desenhos, pinturas)

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    Respostas
    1. Eu realmente tinha grandes expectativas com o livro e me decepcionei bastante, e todas as coisas que apontei na resenha de forma negativa me incomodaram. Posso replicar algumas das suas respostas:
      1- Em diálogos, quando Jessie fala com Endry ou Lúcio, o nome usado é Garibaldi. Vi isso como uma incoerência sim. Mesmo que esteja contando uma história passada, acho que nos diálogos deveria ter sido usado o nome antigo.
      5- Eu costumo sempre estar atenta a possíveis erros no texto, não importa o que eu estiver lendo. Erros indicam problemas de revisão, não importa se esse trabalho tenha sido feito pelo próprio autor ou por terceiros. Enquanto lia, destaquei em amarelo vários trechos que continham erros e em laranja os trechos que me pareceram confusos ou incoerentes; eram muitos, e por isso eu não poderia dizer as páginas exatas na resenha. Mas posso tirar prints de alguns deles e enviá-los para você.
      6- Considero minha resenha muito bem escrita. Não fiz críticas sem fundamento, estava segura de tudo que afirmei no momento em que escrevi, e expliquei o que me incomodou na leitura. Eu não leio romances com frequência, mas antigamente lia bastante; e mesmo assim, os livros que eu leio ainda contêm romance entre os personagens, sem que seja o foco principal. Com base nisso, eu sei bem quando o envolvimento dos personagens parece natural (ou não), e acho que qualquer pessoa, mesmo que não leia muito, poderia prestar atenção nisso. E mesmo que eu não leia romance com frequência, isso não desqualifica meus argumentos. Uma pessoa pode estar sempre disposta a experimentar e conhecer algum gênero ou estilo com o qual não está acostumada.
      Eu agradeço pela sua boa-vontade fornecendo o livro pra quem estava disposto a ler e resenhar. Gosto de apostar em livros de autores independentes, já descobri ótimas histórias graças às parcerias que fiz por meio do blog, mas sempre existe a possibilidade de não gostarmos daquilo que lemos, e não é a primeira vez que um(a) autor(a) contesta meu ponto de vista.

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