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"Cansados da exploração a que são submetidos pelos humanos, os animais da Granja do Solar rebelam-se contra seus donos e tomam posse da fazenda, com o objetivo de instruir um sistema cooperativo e igualitário, sob o slogan "Quatro pernas bom, duas pernas ruim". Mas não demora muito para que alguns bichos - em particular os mais inteligentes, os porcos - voltem a usufruir de privilégios, reinstituindo aos poucos um regime de opressão, agora inspirado no lema "Todos os bichos são iguais, mas alguns bichos são mais iguais que outros". A história da insurreição libertária dos animais é reescrita de modo a justificar a nova tirania, e os dissidentes desaparecem ou são silenciados à força. Instrumentalizada na época da Guerra Fria como arma anticomunista, A revolução dos bichos transcende os marcos históricos da ditadura stalinista que a inspirou e resplandece hoje, passados mais de sessenta anos de seu surgimento, como uma das mais extraordinárias fábulas sobre o poder que a literatura já produziu."

Autor: George Orwell
Gênero: Distopia
Número de páginas: 152
Local e data de publicação: São Paulo, 2007
Editora: Companhia das Letras
Onde comprar: Amazon | Saraiva


Liberdade e igualdade para quem?


Não me lembro bem da primeira vez que ouvi falar de A Revolução dos Bichos, mas com certeza foi depois de ter lido 1984. Eu tinha ficado tão impressionada com o Grande Irmão que qualquer livro escrito pelo mesmo autor seria capaz de despertar meu interesse. E hoje, me pergunto como posso ter levado tanto tempo para correr atrás dessa leitura.
Em uma fazenda chamada Granja do Solar, os animais se dão conta do quanto são explorados pelos seres humanos: os ovos das galinhas e o leite das vacas se transforma em nosso alimento; os cavalos e burros são forçados a carregar peso; os porcos, vacas e bois são abatidos quando atingem a idade considerada adequada. Os animais da Granja do Solar se sentem lesados: trabalham de forma dura, recebem pouco alimento e tudo o que produzem lhes é tomado. Tudo começa quando o velho porco Major tem um sonho sobre como um dia os animais viveriam uma vida tranquila, sem sofrimentos, maus-tratos ou fome. Assim, os demais bichos se rebelam contra o Sr. Jones e os demais seres humanos, e assumem o controle da fazenda.
Logo que a Revolução acontece, os animais instituem, de forma relativamente democrática, suas novas leis, proibindo costumes considerados tipicamente humanos, e instituindo a igualdade. Entre os Sete Mandamentos da recém-nomeada Granja dos Bichos, cito os mais importantes: Nenhum animai matará outro animal; e Todos os animais são iguais.
O trabalho na fazenda é retomado. Teoricamente, todos devem trabalhar do início ao fim do dia, de acordo com suas próprias capacidades. O domingo é o dia oficial de descanso, em que todos os bichos devem celebrar a vitória da revolução que lhes deu liberdade, e participar ativamente de seu governo por meio de assembleias. Entretanto, os porcos logo se diferenciam de outros bichos. Por serem considerados mais inteligentes, se tornam uma espécie de líderes; aprendem a ler e escrever, estudam sobre a administração de propriedades rurais e passam a comandar o trabalho na Granja dos Bichos. Repentinamente, são eles quem ditam as regras, sendo temidos pelos outros bichos da mesma maneira que os humanos inspiravam medo antigamente.

Foto compartilhada no meu Instagram durante a leitura.
Visite @lethyd ou @loucuraporleituras e acompanhe!
"Aquelas cenas de terror e sangue não eram as que previra naquela noite
em que o velho Major, pela primeira vez, os incitara à rebelião."
Página 72.

Não pense que A Revolução dos Bichos é uma simples história sobre animais capazes de pensar e falar. É uma alegoria, escrita com o objetivo de ilustrar de forma simples e clara a situação da União Soviética pós-revolução. Embora houvesse ideais libertários nos quais as pessoas acreditavam, não foram alcançadas nem liberdade e muito menos a igualdade, e essa é a principal característica que podemos observar na Granja dos Bichos.
Meu conhecimento sobre a Revolução Russa é extremamente superficial, e dessa forma, o que eu melhor apreendi do livro foram as características dos regimes autoritários, aos quais George Orwell se opunha. Talvez a máxima "Todos os bichos são iguais, mas alguns bichos são mais iguais que outros" seja mais famosa que o próprio livro, e não à toa: os porcos, insistindo numa suposta superioridade de intelecto, logo assumem a liderança da fazenda e passam a usufruir de vantagens. Primeiro, de forma sutil, e depois, de maneira cada vez mais visível. É então que as leis passam a ser modificadas, de forma a justificar os privilégios e tiranias cometidos pelos porcos, com a proteção dos cachorros. E, o que é pior: os demais bichos são levados a acreditar que nada mudou, e que as leis sempre foram aquelas. Da mesma forma, a História oficial da Revolução dos Bichos também é modificada; o porco Bola-de-Neve, exilado da Granja, passa a ser visto como um terrível inimigo, e seus méritos na Revolução desaparecem da memória coletiva dos bichos. E, ao contrário, o porco Napoleão se torna um grande herói. Coisas semelhantes aconteceriam também em 1984, e fui identificando cada uma delas. A forma como a Granja dos Bichos mantém relações amizade com uma das fazendas vizinhas, e de inimizade com a outra, alternadamente, me fez lembrar muito da forma como a Oceania está em guerra ora com a Eurásia, ora com a Lestásia, sem que as pessoas saibam realmente quem é o inimigo e o aliado.
Este livro teve grandes dificuldades de ser publicado na época em que foi escrito, e um dos motivos disso foi a maneira com que retratou os líderes russos. Nessa história, eles são representados pelos porcos: Stálin seria Napolão, enquanto Bola-de-Neve seria Trotsky. E o despotismo e a tirania descritos, que representam acontecimentos semelhantes na União Soviética, foram o que fez com que o livro fosse usado como propaganda anticomunista.
A linguagem usada é simples, apesar de formal. É um livro de leitura rápida e fácil, que pode facilmente ser concluída em um ou dois dias. Só demorei um pouco mais porque estava envolvida com outra leitura ao mesmo tempo. Não é necessário entender muito de política ou de História para reconhecer as características de regimes autoritários. Mas acredito que para identificar melhor as críticas ao regime vigente na União Soviética, seja necessário buscar por leituras mais aprofundadas, e infelizmente não tenho referências sobre isso.
Ademais, é um ótimo livro sobre as relações de poder, sobre ditaduras, sobre política. Descreve muito bem o que significa aquela frase que diz que a "A História é contada pelo ponto de vista dos que venceram". Ao final, ainda estão presentes um posfácio escrito por Christopher Hitchens, além de dois prefácios escritos pelo próprio George Owrell: um para a edição inglesa do livro, e outro para a edição ucraniana; eu acredito que desses três textos de apoio, o mais esclarecedor de todos seja o último.

Avaliação geral:


Onde comprar:


Aspectos positivos: a linguagem simples e a leitura é fácil e rápida; descreve de forma fácil de entender a tirania e as contradições de governos autoritários.
Aspectos negativos: assim como na leitura anterior, não encontrei aspectos negativos.

Por: Lethycia Dias

8 Comentários

  1. Adorei a resenha. Sempre quis ler esse livro pelo meu sonho de ser vegetariana, dizem que ele ajuda bastante a se inspirar né?
    www.rosastenue.com.br

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    1. Olá, Thaynara, fico feliz que tenha gostado! Olha, eu não conheço textos de orientação sobre veganismo, mas acho que esse livro, mesmo não sendo sobre isso, já é um incentivo e tanto. A forma que ele faz a gente olhar o sofrimento dos animais é muito marcante. Depois da metade tem uma cena muito triste que me tocou demais... Eu recomendo

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  2. esse livro é muito, muito, mas muito maravilhoso! linguagem fácil, viciante e rápido de ser lido. também já li 1984 e, quero mais coisar do orwell <3
    :**** muá

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    1. Olá! Realmente, Orwell conseguiu cumprir seu objetivo com esse livro. Com uma história simples e com personagens que qualquer pessoa poderia compreender bem, ele disse tudo que tinha a dizer, e não é à toa que o livro virou um clássico! Tenho vontade de ler os ensaios críticos dele...

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  3. Oie! Nunca li nada de Orwell, sua postagem me despertou essa vontade...

    Beijooo

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    1. Então nesse caso, fico feliz de ter chamado sua atenção com a minha resenha! <3

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  4. Esse livro é maravilhoso. E aquele fim que você fica tipo "Que sacada genial"!?
    Andei vendo seu blog, é lindo!

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    1. Exatamente!
      Fico feliz que tenha gostado, sinta-se à vontade pra visitar! :)

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