Confira!


"Pretérito Imperfeito é a história de Toninho, o garoto de treze anos, de natureza inquisitiva, que prefere passar os dias observando passarinhos, refugiando-se, solitário, na clareira de um bosque nos limites da cidade. Também é sobre os dilemas de Cecília, a menina que adora ler e escrever, e que, ao lado da mãe, está confinada em sua própria casa, refém das atividades misteriosas em que o pai está envolvido. Por fim, é a história de Pedro Vieira, desde a infância em um sítio no Rio Grande do Sul, até a paternidade tardia, redentora, talvez, de um passado que ele prefere deixar escondido em uma caixa no alto do armário. Pretérito Imperfeito entrelaça essas três realidades distorcendo o tempo e o espaço. Falando do amor sofrido pela primeira vez. Do amor por livros e por escrever. Do amor entre pais e filhos. De segundas chances. De reescrever o final da história."

Autor: Gustavo Araujo
Gênero: Drama 
Número de páginas: 286
Local e data de publicação: Campo Grande - MS, 2015
Editora: Caligo
*Obra cedida pelo autor em formato digital.

"Nessa rua, nessa rua tem um bosque..."


Imagino que você deve ter lido o título acima completando a cantiga popular: "[...] que se chama que se chama solidão...". Pois saiba que essa cantiga que muitos de nós ouvimos como criança foi a inspiração de Gustavo Araujo para um conto que ele mais tarde quis desenvolver e que acabou dando origem ao livro Pretérito Imperfeito. Conheci a história de Toninho e Cecília lendo a resenha feita pela Hel, do Leituras e Gatices. Foi graças ao comentário que deixei por lá que o próprio autor do livro conheceu o Loucura Por Leituras e decidiu entrar em contato comigo solicitando uma resenha. E é com muito carinho que venho apresentar essa história a vocês!
A história gira em torno da amizade entre Antônio (ou Toninho) e Cecília, duas crianças de treze anos que se encontram em uma mata nos arredores da cidade de Porto Esperança, no interior do Paraná. Toninho, um menino pobre e órfão de mãe, que não tem boa convivência com o pai; Cecília, uma menina rica, que adora ler e escrever, e que de repente vê sua vida mudar quando seu pai se afasta da cidade sem muitas explicações e deixando avisos estranhos sobre a necessidade de ela e a mãe serem discretas, não saírem de casa e não receberem ninguém.
Toninho sente a falta da mãe, que morreu há alguns anos. Além disso, o menino sofre com a dificuldade do pai para se comunicar. Pedro Vieira, o pai, parece um homem grosseiro e ruim, sem amor pelo filho, que vive para o trabalho, exige que o filho vá bem na escola e que gasta dinheiro apenas com o necessário, que não entende os dilemas e anseios de Toninho. Muito solitário, o garoto busca refúgio se isolando do mundo no bosque próximo da cidade, procurando por passarinhos.
Cecília escreve um diário em forma de cartas para uma amiga imaginária chamada Carol. É por meio dele que acompanhamos o dia-a-dia da menina: uma festa de aniversário cheia de presentes; um livro novo para ler; o pai recebendo pessoas estranhas em casa, e depois viajando misteriosamente; a angústia de precisar se esconder em casa, para evitar que o pai e toda a família corra riscos.
Os dois se encontram por acaso na clareira onde Toninho procura por seus passarinhos, e passam a compartilhar suas experiências, mesmo que demorem a ter confiança total um no outro. O sentimento que une as duas crianças é bonito, simples, e a amizade se transforma em um amor muito puro e inocente, que vai mudar as vidas dos dois.

"Ela tampouco parecia acreditar. Inevitavelmente, soltou um riso,
não conseguindo conter a felicidade. Foi o que bastou para que o azulão batesse asas
e voasse na direção das árvores, desaparecendo."
Página 68.

Pretérito Imperfeito é um daqueles livros que fazem a gente sentir saudade da infância. Seja pelo fato de dois dos personagens principais serem crianças; seja por trazer à tona as inseguranças, medos e dilemas que crianças enfrentam num mundo em que são subestimadas pelos adultos. A existência de um lugar afastado onde duas crianças se distraem do mundo traz uma aura mágica e muito nostálgica, que nos faz lembrar da cantiga "Se essa rua fosse minha". Esse lugar especial criado pelo autor, bem como as aparições de certa espécie de pássaro que não deveria existir no Paraná, trazem à tona um pouco de realismo mágico que torna a história ainda mais encantadora.
Narrada em terceira pessoa, a história se divide em capítulos em geral curtos, porém com variações. De início, percebemos a alternância entre o ponto de vista de Toninho, na narração comum; e o de Cecília, por meio de seu diário. Mais tarde, o Pedro Vieira ganha importância, e a visão dele é incluída na história.
A linguagem utilizada é simples e compreensível, apenas com um pouco de regionalismos que podemos entender pelo contexto. O uso das palavras e expressões regionais, que fazem parte da ambientação da história na Região Sul do Brasil, enriquece a leitura, e faz com que o leitor perceba a diferença entre a forma que falamos hoje e como falávamos décadas atrás, quando nossos pais eram crianças.
Toninho é um bom menino, que às vezes acaba fazendo coisas erradas com boas intenções. Afinal, quem é que nunca mentiu para ajudar um amigo quando era criança? Cecília, talvez por ser uma menina rica, a princípio parece um pouco "mandona", como se estivesse acostumada a ter tudo que quer. Mas a situação difícil que sua família enfrenta faz com que ela amadureça bastante. Além disso, os capítulos de Pedro nos fazem compreender a personalidade do pai calado, autoritário, insensível. Quando conhecemos o seu passado, ele deixa de parecer um pai ruim, e nos damos conta de que ele é também uma pessoa cheia de traumas de medos, que não sabe como externá-los.
Outro ponto forte do livro é o contexto histórico referente à Era Vargas, à malsucedida Revolução Comunista de 1930 e à perseguição política realizada por Filinto Müller na época, incluindo a prisão e deportação de Olga Benário (para mais informações visite a resenha de Olga). Também gostei muito do posfácio escrito pelo autor e revelando as fontes que usou na pesquisa. Como li Olga há pouco tempo, identifiquei até as referências mais sutis; mas quem não gosta ou não se interessa muito pela História do Brasil consegue compreender muito bem, porque ao longo da narrativa Gustavo deixou bem claro o que foi esse passado do nosso país.
O final trás uma revelação e uma virada inesperadas, e eu confesso que no dia em que terminei, li oitenta páginas de uma vez, porque queria muito saber o que aconteceria com Cecília e sua mãe Cristina, e queria chegar ao fim do relato sobre o passado de Pedro.
Minha única queixa quanto ao livro é sobre a diagramação do arquivo em PDF que recebi, enviado pelo Gustavo. O texto foi organizado de forma que fique mais para a direita nas páginas ímpares e mais para a esquerda nas páginas pares. Para ler no meu celular, eu precisava dar zoom na tela, e isso acabava criando problemas: a cada vez que mudava de página, tinha que mover a tela para o lado. Veja o print abaixo:

Print do arquivo em PDF que li.
Observe a posição do texto.

Fora isso, não tenho nenhuma reclamação quanto à leitura. Recomendo Pretérito Imperfeito para quem gosta de literatura brasileira, para quem tem interesse em História do Brasil e para quem gosta de crianças como protagonistas.

Aspectos positivos: A ambientação e as referências históricas enriquecem a leitura; os personagens são muito bem construídos, especialmente Pedro Vieira; o uso de elementos sutis do realismo mágico deixa o leitor livre para interpretações; a virada do final é surpreendente.
Aspectos negativos: a diagramação do arquivo digital pode ser incômoda para a leitura.

Avaliação geral:


Caso tenha se interessado pelo livro, você pode:
Visitar a página no Facebook ou o blog; e
Comprar pela Amazon.

Por: Lethycia Dias

2 Comentários

  1. Oi, Leth!
    Que legal que você pôde ler Pretérito Imperfeito e que a minha resenha tenha te despertado essa vontade! E que bom que você gostou!
    Uma pena o arquivo ter ficado ruim de ler no celular, como eu li no Kindle, o arquivo ficou normal.

    Bjs, Hel.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Foi graças à sua resenha que conheci esse livro maravilhoso, e acho que foi o primeiro post que visitei no Leituras e Gatices <3
      Eu quis muito ler pelo Kindle, e até podia usar um "truque" pra converter o PDF para o formato certo e ler pelo aplicativo no computador. Mas como me distraio muito no computador, eu queria muito ler pelo celular, e aí só dava certo pelo PDF mesmo... Mas amei muito a história!

      Excluir

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