Antes da prova
Em 2013, fiz um curso durante aproximadamente dois meses. As aulas aconteciam na terça e na quinta, e eu não faltava nunca. O prédio do curso ficava na Rua 6, no Centro. Mesmo que às vezes fosse cansativo chegar em casa depois de passar um bom tempo no ônibus, eu adorava. Era ótimo sair de casa sozinha, ver várias pessoas que eu sequer conhecia, conversar com o garoto bonito que sentava ao meu lado, andar apressada pelas ruas... E como me apressava! Me sentia como se estivesse sempre atrasada, embora nunca estivesse. Ou talvez só gostasse de andar rápido daquele jeito, desviando de quem vinha no sentido contrário da calçada, como se tivesse algo muito importante a fazer, mais importante que os compromissos de qualquer um que cruzasse meu caminho.
Mas naquele dia não estava alegre. Havia uma prova, e eu não estava preparada. E era importante. O certificado só seria entregue se a nota fosse superior a 7,0. O nervosismo me atormentava. Mas estava cerca de uma hora adiantada. Sem querer ter de ficar esperando por muito tempo, decidi tomar outro caminho. Ao invés de me dirigir à Rua 6, desci a Avenida Goiás, sem pressa. Entrei em uma livraria da qual gostava muito. Era um prédio de fachada verde, com um letreiro bonito. As estantes abarrotadas de livros me faziam entrar ali olhando para todos os lados, sem querer perder nenhum detalhe. Entrei pelo lado da esquerda, e acredito não ter sido vista pelos atendentes do balcão, pois nenhum deles me chamou para perguntar em que poderia me ajudar. Ah, não era necessário! Eu já receba uma grande ajuda!
Andei por entre as muitas prateleiras que ficavam daquele lado. Por trás de uma delas, havia uma mesa redonda com algumas cadeiras, a única da loja. E na estante que ficava encostada na parede, encontrei um exemplar de Harry Potter e o Cálice de Fogo. Eu o puxei lentamente, folheei rapidamente, e logo consegui encontrar uma de minhas partes preferidas. Sentei-me numa das cadeiras, larguei a bolsa em cima da mesa, e fiquei com o livro no colo. Minha respiração havia se acalmado há muito tempo. Nada mais me inquietava. Naquele ambiente agradável, diante do que eu mais gostava, era impossível lembrar a preocupação do curso.
Quando dei por mim, faltavam apenas quinze minutos. Como o tempo passara tão rápido? Podia meu celular estar com o relógio errado? Não, não estava, porque conferi as horas no relógio da livraria. A diversão era boa, mas o dever me chamava. Fechei o livro querido e guardei-o no mesmo lugar, que memória boa tinha! Então peguei a bolsa, guardei o celular no bolso da calça, e saí como havia entrado, sem ser notada por ninguém. Andei com um pouco mais de pressa, indo para leste pela Rua 4, até a segunda esquina, quando então virei na Rua 6. Faltavam poucos minutos. Eu, porém, já não estava ansiosa, ou com medo. Me encontrava completamente tranquila, preparada para a prova, após os minutos passados na livraria. Dirigi-me ao prédio do curso com um sorriso aos colegas que encontrava. Havia uma prova à minha espera, e eu sabia que me sairia muito bem.
Por: Lethycia Dias