Confira!


Você deve estar se perguntando sobre o motivo da existência desse post em um blog de literatura. É que eu acredito que nós, blogueiros, como criadores de conteúdo e formadores de opinião, não podemos restringir nossas produções ao simples, ao divertido, ao entretenimento. Acho que justamente por termos nossos espaços na internet, onde recebemos visitas de pessoas que levam nosso trabalho a sério e acreditam naquilo que produzimos - por causa disso, devemos também dedicar algum tempo aos assuntos sérios, melindrosos, que precisam ser discutidos em algum momento. É por isso que de vez em quando escrevo alguns textos opinativos por aqui, e esse é mais um deles.
Acho que quase toda reflexão é precedida por uma observação. Antes de pensar sobre algo, é necessário notar a existência de seja lá o que for. Eu tenho consciência sobre o assunto desse post há bastante tempo, e é provável que você também tenha, embora talvez você nunca tenha parado pra pensar, ou mesmo nunca tenha se incomodado.
Integrar um grupo on-line durante muito tempo traz suas vantagens e desvantagens. Por um lado, você vê dezenas de postagens se repetirem de forma cíclica, e a pessoa que levanta (ou retoma) a discussão sobre determinado assunto sempre acredita que é a primeira a apresentar aquilo aos outros. Por outro lado, você conhece toda a rotina e estrutura daquele grupo, entende sua diversidade (ou ausência dela), e o pensamento predominante entre os membros.
Muitos e muitos assuntos são repetidos constantemente no grupo Leitores Anônimos, no qual eu participo há mais de um ano, porém um deles me chamou muita atenção na última vez em que surgiu. Estou falando da imagem abaixo:

Fonte: Reprodução. Meu Mundo.

Como interpretar o desenho acima? Vou tentar fazer isso da melhor forma possível:

"Em um mundo onde todas as pessoas são relativamente iguais, e se preocupam com coisas fúteis (?) é difícil encontrar alguém que se diferencie dos demais. Mas os modos de comportamento estão padronizados, pré-definidos, e é como se a tal pessoa diferente fosse estranha ou inaceitável."

Eu quero, em primeiro lugar, esclarecer que não concordo de forma nenhuma com o que foi dito acima. É uma interpretação, é aquilo que consigo extrair do desenho a partir do que conheço sobre o mundo e a sociedade. Vamos resumir para uma fórmula mais simples:

"Em meio a um monte de garotas preocupadas com moda e beleza, a garota que gosta de ler e estudar é a esquisita, a solitária, a que não se encaixa em grupo nenhum."

Admita: você já viu isso em algum lugar! Em filmes americanos, livros para adolescentes, fanfictions, músicas, etc. Quem não conhece a história da garota inteligente e tímida que é apaixonada pelo cara popular, que por sua vez namora com a menina mais bonita da escola? Não precisa se lembrar de um filme ou livro específico, porque a fórmula é mais ou menos a mesma, com pequenas variações. E é claro que vendo isso se repetir tantas vezes, você acabou assimilando, não é verdade?
Mas não quero criticar aqui o enredo de filmes, livros e fanfictions, ou a letra de música nenhuma. O que eu pretendo pensar é essa "oposição" que parece existir entre a beleza e a inteligência, e que na verdade está apenas nas nossas cabeças. Minha intenção é questionar: por que a beleza é considerada fútil? Por que achamos que a inteligência é um diferencial? Porque associamos beleza e inteligência a certos tipos de personalidade? Para a primeira, o extravertimento; para a segunda, timidez. Por que acreditamos nisso?
Você com certeza também já deve ter ouvido a frase: "Se ela tem mais livros do que sapatos, case-se com ela." Me responda: existe algo errado em gostar de sapatos? E por acaso, gostar de ler faz de alguém uma pessoa melhor? E por que é que não se pode gostar das duas coisas?
Voltando à imagem acima: por que as garotas usando maquiagem não podem ser também leitoras e estudiosas? E por que a garota que está lendo não pode também vestir outros tipos de roupas e se maquiar, quando achar necessário? Todas essas meninas na imagem não existem de verdade, mas representam pessoas reais, e essas pessoas podem muito bem gostar de coisas diferentes ao mesmo tempo. Por exemplo, gostar de moda e maquiagem, e gostar de ler e estudar. Por que não?
Por isso, peço a você que está lendo esse post: pense um pouco sobre os estereótipos que você conhece, e se pergunte qual a chance de eles serem reais. Todas as pessoas podem gostar das coisas mais variadas. O que não é certo é alguém querer interferir nas preferências pessoais alheias.
Fiquem agora com uma imagem genial para pensar sobre isso:

Fonte: Reprodução. Carol Rossetti.

Por: Lethycia Dias

11 Comentários

  1. Já recebi um comentário no meu blog me parabenizando por não estar tratando de assuntos fúteis. Mas espera, eu considero blogs de beleza muitas vezes mais solidários que o meu literario. Porque eu não estou ajudando muita gente fazendo resenhas de livros, mas elas estão ajudando muitas pessoas a se sentirem bonitas e confiantes com a receita de uma nova hidratação. Eu mesma adoro ler e era fanática por maquiagem. Eu gosto de sapatos, gosto de roupas e gosto de escolher o melhor creme para o meu cabelo. O que tem uma coisa a ver com a outra? A Literatura tem como uma de suas funções nos abrir a mente e nos livrar da ignorância e do preconceito, então se achar melhor que alguém que prefere jogar videogame ou se maquiar mostra que você não está livre de preconceitos e portanto não está aplicando a proposta da literatura. Sem falar que existem também livros fúteis. Eu mesma tenho alguns que não me acrescentam praticamente nada.Assim, a própria literatura não está livre de futilidades. Existem muitos "posers" literários que querem usar o conhecimento para alcançar a superioridade. E acabam sendo arrogantes. Isso me dá uma canseira sem tamanho. Eu achei muito válido o seu post. Continue postando discussões como essas por aqui. Ps: se você ficar SÓ lendo também ficará alienado. Vou até compartilhar no meu face porque tem gente precisando ler isso...

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    1. Como eu amo seus comentários Lívia! São sempre bem-vindos por aqui.
      O aspecto que você levantou também é importante, e eu não tinha pensado nisso. Eu, que nem sou muito fã de blogs de beleza, de vem em quando paro pra ver vídeos com indicação de batons, porque sou louca por batons. Vejo vídeos sobre como cuidar melhor do cabelo, porque tenho muita vaidade com o meu. E me sinto super bem com isso! E também já li livros fúteis, mesmo que eu não goste de admitir isso!
      Cada vez mais, o blog me faz gostar da possibilidade de poder conhecer pontos de vista novos, para mudar os meus ou enriquecê-los. Eu agradeço pelo comentário e por compartilhar. E sim, pretendo fazer outros posts de assuntos "sérios", só não prometo nenhuma data...

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  2. Menina, que texto maravilhoso! Fiquei sem palavras!
    Você arrasou! Acho que os estereótipos são muito prejudiciais, mas, ao mesmo tempo, vejo uma enorme quantidade de pessoas tentando se encaixar neles e isso é preocupante! Acho que as pessoas gostam de rotular porque fica mais fácil, sabe, simplifica, mas quem disse que nós, seres humanos, somos simples?!
    Eu acompanho muito blog literário de pessoas que gostam de se dizer "leitores" que ostentam essa imagem como se ela fosse automaticamente conferir à pessoa um status de intelectualidade. Até já questionei isso no meu blog também, mas mais voltado para a literatura, sobre ser leitor e sobre sustentar a imagem de leitor, que são coisas muito diferentes!

    Adorei o seu texto e já estou seguindo o blog para não perder os próximos, bjs!

    Leituras & Gatices

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    1. Muito obrigada, Helena, pelo comentário, pelos elogios, e por seguir.
      Também já vi muita gente nessa de se achar intelectual e melhor do que todo mundo só porque gosta de ler. Eu confesso que já fui assim, mas a gente amadurece, descobre que não tem nada de especial e que outras pessoas sabem muito mais que a gente!
      Vou fuçar o seu blog até procurar esse post! <3
      Um grande abraço!

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  3. Incrivelmente incrível. Seu post ficou impecável, peculiar, crítico e muito bem escrito. Este assunto é importantíssimo e está intimamente ligado ao meio social. como você disse, nós blogueiros, devemos incluir temáticas deste cunho em nossos conteúdos. Pois, é preciso que as pessoas estejam cientes dos riscos em não compreender a realidade, e buscarmos todos, um caminho melhor para se seguir. Parabéns pela publicação Lethycia, ficou muito bom. Adorei a última imagem, a da Carol Rossetti.

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    Respostas
    1. É exatamente isso que eu penso sobre nós blogueiros/youtuber's. Podemos falar das coisas que gostamos, que são divertidas para nós e para o nosso público-alvo, mas também temos uma responsabilidade com as pessoas que nos acompanham, e é importante também entrar em assuntos sérios.
      A Carol Rossetti fez várias imagens semelhantes, com mensagens muito legais. Eu adoro o trabalho dela!

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  4. Oi Lethycia, tudo bem?

    Eu gosto bastante de posts opinativos como esse, porque trazem um ponto de vista autêntico sobre um assunto muitas vezes tratado na base do senso comum, como são muitas das imagens de memes de internet.
    Ainda mais porque o tema é polêmico, e eu, que adoro uma polêmica, por pensar que são as que geram mais discussões, e portanto mais reflexões, também gostaria de opinar.

    Vejo que você tem razão na questão central da sua crítica. Não existe essa polaridade entre inteligência e beleza. Muito bem.

    Também acho a história dos sapatos bem ridícula, não tem nada a ver alguém ser pra casar porque lê. Até porque tem gente que lê muito e não entende nada.

    Mas...

    Eu acabo tendo a tendência a aceitar a ideia da imagem como uma crítica legítima.

    Isso porque, tirando a dimensão das opiniões, no dia a dia, empiricamente, o que vemos são jovens imersos num mundo de futilidades e consumismo, levados a cabo por uma indústria da moda, da propaganda e da persuasão a serem como robôs padronizados, nas ideias, no vestuário, no comportamento.

    Por outro lado, pessoas que leem bastante tem maior consciência dessas armadilhas, e estão menos propensar a entrarem na onda. Daí muitas vezes parecerem peixes fora d'água, estranhos no ninho, e por aí afora.

    A juventude é um período maravilhoso de rebeldia e contestação, mas os jovens de hoje têm se deixado levar pelas comodidades de uma vida aparentemente confortável e fútil, quando deveriam, no meu humilde modo de entender, estarem virando o sistema de cabeça pra baixo, como a juventude sempre fez em outras épocas, especialmente nos anos 60 e 70.

    O que eu vejo na imagem, portanto, é o produto final de um sistema que produz pessoas iguais em escala industrial, acomodadas na futilidade, enquanto pelo menos uma se dispõe a não ser mais uma na manada, mesmo que pague o preço por isso.

    De qualquer forma, concordando ou discordando eu te parabenizo por trazer essas questões que precisam ser refletidas. É sempre bom poder opinar sobre esse tipo de assunto.

    Um grande beijo.

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    Respostas
    1. Olá, Almir.
      Bom, eu não tinha pensado por esse lado da questão. Realmente conheço muita gente preocupada só com o próprio consumo e divertimento, sem se importar com problemas sociais, sem questionar por que as coisas são como são. Esse também é outro ponto de vista a ser considerado, que nem havia passado pela minha cabeça.
      Obrigada por comentar por aqui, eu sempre acho suas opiniões muito relevantes!

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