"Campeão nas listas de mais vendidos em todo o mundo, traduzido para quarenta países, o O livreiro de Cabul foi considerado pela crítica um dos melhores livros de reportagem sobre a vida afegã depois da queda do Talibã. Após conviver três meses com o livreiro Khan, em Cabul, a jornalista norueguesa Åsne Seierstad compôs este retrato das contradições extremas e da riqueza daquele país. Por mais de vinte anos, Suntan Khan enfrentou as autoridades para prover livros aos moradores de Cabul, e assistiu aos soldados talibãs queimarem pilhas e pilhas de livros nas ruas. Por meio de uma narrativa envolvente, Åsne Seierstad dá voz à família Khan, apresentando uma coleção de personagens comoventes que reflete as desigualdades do Afeganistão."
ISBN: 978-85-7799-108-2
Autor: Åsne Seierstad
Trabalhado como correspondente de guerra desde 1994, a jornalista Åsne Seierstad esteve no Afeganistão logo após a queda do regime talibã. Na capital do país, Cabul, ela logo conheceu a livraria de Sultan Khan, um homem apaixonado pelos livros e pelo conhecimento trazido por eles, e passou a frequentá-la. Convidada para jantar em sua casa e conhecer sua família, teve a ideia de escrever um livro sobre a vida daquelas pessoas, que Sultan logo aceitou. Vivendo com a família Khan por três meses, Åsne fez uma reunião de impressionantes histórias ligadas à família, algumas presenciadas por ela, e outras das quais apenas ouviu falar.
Trata-se de um daqueles livros que se pode ler numa sequência aleatória, pois as histórias contadas, embora estejam organizadas com capítulos numerados, não seguem uma ordem cronológica. A autora vai aos poucos tecendo os fios de uma rede de pessoas reais, retratadas fielmente, para contar sobre suas vidas. O que se vê como resultado é um livro fascinante, repleto de emoção, sem perder aquele sabor da "vida real".
As contradições, entretanto, são visíveis. Sultan pode ser um homem que tem amor pelos livros e que busca sempre pela cultura, mas que domina a família com pulso firme, não permitindo que seus próprios filhos busquem outro futuro que não seja o de trabalhar em sua livraria. O Afeganistão, país de cultura árabe localizado no centro da Ásia, está repleto de tradições milenares que não podem ser quebradas nem mesmo pelo avanço dos tempos atuais: a permissão da poligamia, os casamentos arranjados e todas as restrições à liberdade feminina talvez possam chocar quem nunca teve um contato mais próximo com essa cultura. Nesta obra, os costumes que regem a vida se fazem tão presentes como nos livros de Khaled Hosseini, O Caçador de Pipas e A Cidade do Sol.
Outra presença importante, e talvez impossível de ignorar, talvez seja a sombra da guerra civil que durante anos tomou conta do país, seguida pelo regime extremista talibã, que, embora houvessem acabado, deixaram um rastro de morte e miséria pelas ruas e campos de todo o país. É esta a impressão que temos ao nos confrontar, mesmo que através das páginas de um livro, com os afegãos: uma população sofrida, que parece ter sido abandoada à própria sorte.
"Fiquei em Cabul durante a primavera, logo após a queda do Talibã. Havia uma tênue esperança no ar. As pessoas estavam felizes por se verem livres do Talibã, não precisavam mais ter medo de serem importunadas na rua pela polícia religiosa; as mulheres podiam novamente andar sozinhas na cidade e estudar; e as meninas podiam voltar à escola. Mas a primavera também trazia as marcas dos desapontamentos dos últimos dez anos. Por que ficaria melhor agora?"
Através da narrativa séria e profunda da autora, que consegue nos revelar o íntimo dessas pessoas que vivem em um mundo tão diferente do nosso, baseando-se apenas naquilo que presenciou ou nos relatos que ouviu, o envolvimento do leitor é inevitável. Identificar-se com os sofrimentos destes seres humanos, compartilhar de seus sonhos vãos e revoltar-se com aquilo que para eles está certo, mas que para nós, por questões culturais, pode ser cruel. Eis o que certamente lhe acontecerá caso procure por esta leitura que tanto me impressionou.
Por: Lethycia Dias