"'Hoje se pensa que o ódio e a violência sejam o segredo, a forma de fazer progredir a humanidade. A nossa revolução avança contra esta mentalidade. Ela leva o amor e dá Deus ao mundo, e coloca a Seu serviço família e riquezas, arte e ciência, política e trabalho, filosofia e teologia, vida e morte.' Era o que Chiara Lubich pedia aos jovens do Movimento dos Focolares e Charles, no gueto onde vivia, deu a vida por estas palavras revolucionárias. [...] A sua história, simples e extraordinária, fascina ainda hoje. Já é famoso o musical Streetlight, do Gen Rosso, inspirado na sua vida, e o projeto Fortes Sem Violência, desenvolvido pelo grupo, com atuação ativa de muitos jovens, nas escolas, presídios, e nos bairros mais carentes de vários países, do México à China, Alemanha, Cuba, Polônia, Jamaica, doando a todos a esperança que animava "Charles dos guetos negros".
Texto sobre Charles Moats, retirado do site do Movimento dos Focolares.
Autor: Marco Mascellani
Gênero: Biografia
Número de páginas: 103
Local e data de publicação: São Paulo, 2013
Tradução: Alexandre Araújo
Editora: Cidade Nova
Texto sobre Charles Moats, retirado do site do Movimento dos Focolares.
Autor: Marco Mascellani
Gênero: Biografia
Número de páginas: 103
Local e data de publicação: São Paulo, 2013
Tradução: Alexandre Araújo
Editora: Cidade Nova
Segregação, discriminação e pacifismo
Imagine um jovem negro assassinado a tiros no momento em que entrava em casa. Poderia ter acontecido na semana passada, ou hoje mesmo, em qualquer cidade do Brasil, mas na verdade aconteceu em 1969 na cidade de Chicago, no estado de Illinois, nos Estados Unidos da América. Charles, Um de Nós é a biografia de um jovem que viveu por um curto tempo, mas de forma extraordinária; que serviu de inspiração para todos que o conheceram; e que sofreu com as terríveis injustiças causadas pelas desigualdades sociais e preconceitos da época.
Charles Derrick Moats nasceu em 1951, e viveu toda a sua vida em Chicago, uma das cidades mais ricas e prósperas dos Estados Unidos, local de residência de empresários de sucesso, com avenidas e bairros elegantes reservados para a mais alta sociedade. A mesma cidade, entretanto, era dividida geograficamente por imposições sociais de racismo e classe social. Se de um lado as pessoas mais ricas viviam confortavelmente com todo o luxo que podiam exigir, no gueto viviam os mais pobres, isto é, os negros. Nessa região da cidade ficavam as fábricas que poluíam o ar; as residências não tinham sistema interno de aquecimento; a educação era de baixa qualidade; havia muita sujeira nas ruas, e a miséria era mais do que visível. Os guetos eram dominados por gangues, e era muito comum ver pessoas morrendo sem motivo aparente; meninos, desde muito cedo, eram convidados para participar de grupos criminosos, que eram a única perspectiva de vida que conheciam. Charles viveu os primeiros anos de sua vida num bairro classe média, mas quando sua família foi atingida por dificuldades financeiras, a única opção que tiveram foi mudar-se para o gueto, conhecido como Conjunto Habitacional Robert Taylor Homes. Foi quando Charles, um jovem sensível e muito inteligente, deu-se conta do quanto a vida era injusta, do quanto o mundo é cruel, do quanto as pessoas parecem estar cada vez mais tomadas pela própria ambição e desejo de destruição.
Charles era um rapaz inteligente e muito sensível. Gostava de ler, era apaixonado por ciência, especialmente astronomia, e escrevia poemas que demonstravam sua grande preocupação com a vida e com as pessoas em geral. Sabia tocar bateria e violão, e ao mesmo tempo em que estudava, tinha um emprego de meio expediente no Westside Veterans Hospital. Era, como se pode ver, um jovem responsável, aparentemente com um futuro inteiro pela frente.
O que mais preocupava Charles era, realmente, as injustiças do mundo, a falta de esperanças concretas de viver em um lugar melhor, e a grande miséria do gueto negro. A lei dos bairros ricos e elegantes não existia dentro do gueto, onde as pessoas viviam à mercê de grupos criminosos que criavam as próprias regras.
"Assim, podia-se frequentemente observar os mais novos receberem na rua instruções sobre como atirar ou, em todo caso, como matar, como se tornar um killer por poucos dólares ou por medo de retaliações. Até Charles teve de ser defender de desmandos de todos os tipos e de coerções a que estavam sujeitos os meninos, de propostas más feitas por gangues que ali se fixam como erva daninha, atuando impunemente."
Página 42.
Em 1967, quando beirava os 15 anos, Charles encontrou a resposta para seus questionamentos mais profundos e suas preocupações mais angustiantes quando conheceu o Movimento Gen (Geração Nova, criado pelos Focolares), um movimento que utiliza a religiosidade em prol da paz mundial. e que espalhou-se pelo mundo todo. Em Chicago, Charles esteve em contato com jovens de diferentes origens e classes sociais que acreditavam no ideal de que todas as pessoas poderiam um dia vir a aceitar-se umas às outras como são. A partir daí, a vida de Charles mudou: ele se envolveu o máximo que podia com os gen, e a partir daí, passou a viver segundo ideais de felicidade, paz, e religiosidade, que o fizeram mais feliz. Até mesmo através de seus poemas, transcritos e traduzidos no livro, é possível perceber o quanto o trabalho no Movimento Gen o influenciou de forma positiva.
Entretanto, o Movimento Gen tornou sua vida mais perigosa. Charles precisava atravessar diferentes regiões da cidade para participar das reuniões do movimento, e frequentemente era visto com jovens brancos, o que não agradava nenhum pouco os integrantes das gangues do gueto. Forçados a viver sob um verdadeiro regime de segregação, em que os brancos tinham dinheiro, conforto e acesso ao melhor que a cidade podia oferecer, e aos negros restava a miséria, as doenças e a fome, os jovens do Conjunto Habitacional Robert Taylor Homes viam as pessoas brancas como inimigas. Charles, que não aceitava participar das gangues, que não cometia atos de violência, e que andava em companhia de rapazes e moças brancos, era visto como um traidor. Por causa disso, Charles passou a correr perigo diariamente.
Mudando-se para a casa de seus avós no mesmo bairro onde vivera seus primeiras anos de vida, Charles acreditava estar protegido, mas duas vezes escapou de tiroteios e brigas nos quais parecia estar sendo perseguido.
No ano de 1969, Charles havia sido escolhido para representar os Estados Unidos, ao lado de outro jovem, no Congresso do Movimento gen em Roma. Entretanto, não chegou a embarcar em direção à Itália, pois foi vítima de um atentado a tiros no dia 24 de junho de 1969, na porta da casa de seus avós. Permaneceu em coma num hospital durante quatro dias, tendo sua morte clínica no dia 28. Seu assassino não chegou a ser descoberto, mas tudo indicava que sua morte fosse obra de membros das gangues.
O livro, escrito em sua homenagem cerca de 30 anos após sua morte, é um relato simples e leve, que vai direto ao ponto. Através dele, acompanhamos Charles desde seus primeiros anos de vida, e conhecemos sua personalidade: um jovem calmo, inteligente, sensível e que despertava encanto em todas as pessoas que o conheciam de perto. A leitura pode ser encarada como mais um relato de violência nas grandes cidades; como uma análise social de uma comunidade cercada de pobreza e preconceito e sem nenhuma perspectiva de uma vida melhor; ou ainda como uma reflexão sobre como é possível encontrar respostas para nossas próprias angústias e questionamentos.
É um daqueles livros que nós conseguimos ler de ma vez só, sem intervalos. Devido ao seu pouco número de páginas e à linguagem fácil, eu não devo ter levado mais do que três horas. Recomendo a leitura deste livro para todos aqueles que possuem convicções religiosas profundas, e também para aqueles que se preocupam com problemas sociais, racismo e violência, e já deixo um alerta: você pode interpretá-lo de várias maneiras diferentes.
Aspecto positivo: linguagem leve e simples, de fácil entendimento; inclusão de pequenos relatos dos familiares de Charles, sobre sua personalidade; capítulos curtos, incentivando o leitor a prosseguir.
Aspecto negativo: falta de uma análise mais profunda sobre a criminalidade do gueto.
Por: Lethycia Dias
Referências bibliográficas:
FOCOLARES, Movimento dos. Charles Moats. Disponível em: <http://www.focolare.org/pt/news/2011/06/26/charles-moats-charles-dei-ghetti-neri/>. Acesso em: 24 de setembro de 2015.
FOCOLARES, Movimento dos. Gen. Disponível em: <http://www.focolare.org/pt/movimento-dei-focolari/scelte-e-impegno/gen/>. Acesso em: 24 de setembro de 2015.
WIKIPÉDIA. Chicago. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Chicago>. Acesso em: 24 de setembro de 2015.
"Podes morar em um palácio ou em um barraco,
mas sempre deves ser capaz de fazer da tua casa um paraíso."
Pensamento gen
Entretanto, o Movimento Gen tornou sua vida mais perigosa. Charles precisava atravessar diferentes regiões da cidade para participar das reuniões do movimento, e frequentemente era visto com jovens brancos, o que não agradava nenhum pouco os integrantes das gangues do gueto. Forçados a viver sob um verdadeiro regime de segregação, em que os brancos tinham dinheiro, conforto e acesso ao melhor que a cidade podia oferecer, e aos negros restava a miséria, as doenças e a fome, os jovens do Conjunto Habitacional Robert Taylor Homes viam as pessoas brancas como inimigas. Charles, que não aceitava participar das gangues, que não cometia atos de violência, e que andava em companhia de rapazes e moças brancos, era visto como um traidor. Por causa disso, Charles passou a correr perigo diariamente.
Mudando-se para a casa de seus avós no mesmo bairro onde vivera seus primeiras anos de vida, Charles acreditava estar protegido, mas duas vezes escapou de tiroteios e brigas nos quais parecia estar sendo perseguido.
No ano de 1969, Charles havia sido escolhido para representar os Estados Unidos, ao lado de outro jovem, no Congresso do Movimento gen em Roma. Entretanto, não chegou a embarcar em direção à Itália, pois foi vítima de um atentado a tiros no dia 24 de junho de 1969, na porta da casa de seus avós. Permaneceu em coma num hospital durante quatro dias, tendo sua morte clínica no dia 28. Seu assassino não chegou a ser descoberto, mas tudo indicava que sua morte fosse obra de membros das gangues.
O livro, escrito em sua homenagem cerca de 30 anos após sua morte, é um relato simples e leve, que vai direto ao ponto. Através dele, acompanhamos Charles desde seus primeiros anos de vida, e conhecemos sua personalidade: um jovem calmo, inteligente, sensível e que despertava encanto em todas as pessoas que o conheciam de perto. A leitura pode ser encarada como mais um relato de violência nas grandes cidades; como uma análise social de uma comunidade cercada de pobreza e preconceito e sem nenhuma perspectiva de uma vida melhor; ou ainda como uma reflexão sobre como é possível encontrar respostas para nossas próprias angústias e questionamentos.
É um daqueles livros que nós conseguimos ler de ma vez só, sem intervalos. Devido ao seu pouco número de páginas e à linguagem fácil, eu não devo ter levado mais do que três horas. Recomendo a leitura deste livro para todos aqueles que possuem convicções religiosas profundas, e também para aqueles que se preocupam com problemas sociais, racismo e violência, e já deixo um alerta: você pode interpretá-lo de várias maneiras diferentes.
Aspecto positivo: linguagem leve e simples, de fácil entendimento; inclusão de pequenos relatos dos familiares de Charles, sobre sua personalidade; capítulos curtos, incentivando o leitor a prosseguir.
Aspecto negativo: falta de uma análise mais profunda sobre a criminalidade do gueto.
Por: Lethycia Dias
Referências bibliográficas:
FOCOLARES, Movimento dos. Charles Moats. Disponível em: <http://www.focolare.org/pt/news/2011/06/26/charles-moats-charles-dei-ghetti-neri/>. Acesso em: 24 de setembro de 2015.
FOCOLARES, Movimento dos. Gen. Disponível em: <http://www.focolare.org/pt/movimento-dei-focolari/scelte-e-impegno/gen/>. Acesso em: 24 de setembro de 2015.
WIKIPÉDIA. Chicago. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Chicago>. Acesso em: 24 de setembro de 2015.