"Numa magnífica casa solarenga de províncias, propriedade de abastado aristocrata, reúne-se um grupo de pessoas da melhor sociedade inglesa, para passar um agradável fim de semana. Porém, entre a "gente fina", há quem faça coisas más e que, com muitas boas maneiras, pode cometer os piores assassinatos. Isto é o que acontece na mansão de Sir Henry Angkatell: um assassino oculta-se entre seus elegantes convidados e um deles é a sua vítima. Felizmente, também lá se encontra um homenzinho pequeno, de grandes bigodes e com cérebro privilegiado: Trata-se do famoso detetive Hércule Poirot, que descobre o culpado e impede, na última hora, que este cometa um segundo assassinato."
Autor: Agatha Christie
Gênero: Policial
Número de páginas: 308
Local e ano de publicação: Rio de Janeiro, 1964
Tradução: Vânia de Almeida Salek
Editora: Record
Quando o "simples" engana
Este livro foi o primeiro de Agatha Christie que li, apesar de já saber da fama de suas obras há muito tempo. Como sabemos desde a sinopse, Sir Henry e Lady Lucy Angkatell estão se preparando para receber alguns parentes e amigos, convidados para passar um fim de semana da Mansão Hollow, uma propriedade nos arredores de Londres, próxima a um bosque, perfeita para o verão. Entre os convidados estão Midge Hardcastle, e Henrietta Savernake, suas primas; Edward Agkatell, um primo que possui uma propriedade da família; David Angkatell, também primo, um jovem intelectual de Oxford; e John e Gerda Christow, um casal de amigos. Além disso, há um convidado especial: o detetive Hércule Poirot, que possui um chalé vizinho à Mansão. Lucy e Henry sabem que os convidados podem não se dar muito bem, mas acreditam serão capazes de dar igual atenção a todos e manter o bom relacionamento entre todos.
Entretanto, o que eles não esperavam era que durante este fim de semana ocorresse um terrível crime, no domingo à tarde, em frente à bela piscina da casa. Pouco antes de morrer, a vítima diz o nome de uma das pessoas presentes; além disso, o suposto assassino encontra-se de frente para sua vítima, segurando uma arma. Parecem não haver dúvidas de que o culpado seja essa pessoa. Entretanto, Poirot desconfia de que a cena seja um tanto artificial, e a simplicidade evidente dos acontecimentos não o convence. Além disso, as investigações policiais indicam de que a arma usada no crime foi outra. Com o avanço da história, nos damos conta de que sempre surgem novas evidências apontando contra outras pessoas, e parece ser cada vez mais difícil compreender quem foi o assassino.
Confesso que de início não foi uma leitura fácil. Eu ansiava por saber quem morreria, e quando. Havia imaginado que "reunir um grupo de pessoas da melhor sociedade inglesa" significava dar uma festa ostensiva e esplêndida, na qual estariam presentes pessoas de alta classe, que apesar de terem conflitos entre si e relações difíceis, estariam ali para "manter as aparências". Ao menos, é o que se esperaria de um filme comum, ou de um capítulo de telenovela. Mas não estamos falando de filmes com enredo batido, e muito menos de novelas do horário nobre. Estamos falando de Agatha Christie, a Rainha do Crime, e se sua maneira de articular os eventos numa história sensacional me incomodou a princípio, talvez fosse eu que estivesse acostumada com outros tipos de trama policial. Volte à primeira linha da resenha e veja o motivo do incômodo: eu nunca havia lido Agatha Christie antes.
"Levantou a vista abruptamente, perturbado com um leve e inesperado ruído.
Ouvira tiros no bosque, lá em cima, e os ruídos comuns dos bosques,
pássaros, e o som melancólico e distante de folhas caindo.
Mas esse era um outro ruído - apenas um leve clique."
Capítulo Dez, página 108.
Capítulo Dez, página 108.
Temos assim um espetacular romance policial construído de uma forma completamente desconhecida para mim, visto que todos os personagens possuem capítulos narrados sob seu ponto de vista, ao contrário do que eu estava acostumada a ver em outros livros (nos romances policiais atuais, quem marca a narração dos capítulos, em sua absoluta maioria, é sempre o detetive ou policial envolvido nas investigações, que consegue sozinho descobrir tudo, e todas as evidências são apresentadas somente para ele). Assim, vemos que cada um dos convidados, bem como Henry e Lucy e também seus empregados, parecem saber mais do que dizem. A todo momento os indícios apontam para pessoas diferentes, e o leitor se vê perdido, tentando raciocinar entre as provas descobertas, e ao mesmo tempo desconfiando de coisas que os personagens deixam escapar em conversas entre si.
Entretanto, neste romance não temos apenas investigação policial. Antes que o crime aconteça, temos a apresentação dos personagens e somos capazes de entrar em seus respectivos mundos íntimos. Sabemos sobre os dilemas e sentimentos deles, e as relações que possuem entre si. E com a morte, o inquérito policial e as sucessivas investigações conduzidas pelo inspetor Grange, vemos esses personagens tão diferentes prosseguindo suas vidas, sem, entretanto, se esquecer da sombra de morte e mistério que paira entre eles.
Com um desfecho impressionante, em que Poirot baseia-se numa dedução e naquele conflito inicial da cena artificial, do enigma em que tudo parecia ser simples demais para ser verdade. Trata-se não apenas de uma história de assassinato e investigação, mas também de uma narrativa sobre a idealização de uma pessoa, e sobre o quanto pode ser decepcionante descobrir que aquilo que imaginávamos sobre alguém não é verdade.
Eu indico este romance para todos que admiram o gênero policial. Se já estiverem acostumados com a autora, creio que desde o início se sentirão atraídos pela trama; e se, assim como eu, ainda não conhecem suas obras, recomendo que sejam pacientes, e aguardem. A tensão demora para se fazer presente, mas a espera vale a pena!
Por: Lethycia Dias
Oi, Lê!
ResponderExcluirEu comprei o livro, e estou esperando (ansiosamente) que ele chegue.
Olá, Jorge! Então imagino que a resenha tenha sido útil para você. Só espero não ter dado nenhum spoiler!
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