Confira!

"O livro, que é uma espécie de 'ficção psicológica', está escrito na primeira pessoa, como o relato de um professor primário que, cansado dos seus problemas de mestre-escola e adulto, se lembra com saudade da decantada "aurora da minha vida" - e magicamente volta à infância; volta a ser criança - mas sem perder a memória de adulto. E então, passando pela experiência de alguns dias na vida de um garotinho, ele descobre que ser criança - mesmo uma criança de classe média, bem-alimentada, com pais vivos, lar, irmãzinha, brinquedos - não é nenhum mar de rosas. São tantas as dificuldades! Fora alguns momentos bonitos: um claro dia de neve, um "namoro" infantil, um cachorrinho encontrado na rua - são tantos os problemas! Tantas incompreensões, arbitrariedades, autoritarismo, injustiças, violências morais e físicas que a criança tem de suportar, calada e submissa. Até as manifestações de "carinho" de certos adultos são tantas vezes grosseiras, desagradáveis e humilhantes... 'Para nós não existe direito nem justiça, somos uma classe oprimida', escreve o 'pequeno autor'."
Tatiana Belinky, em apresentação da edição brasileira.


Autor: Janusz Korczak
Gênero: Pedagogia
Número de páginas: 219
Local e ano de publicação: não informados
Tradução: Yan Michelsky
Editora: Círculo do Livro

Conhecendo a fundo a alma das crianças


Narrado através dos olhos de um professor primário de nome e idade desconhecidos que se lembra do quanto era feliz na infância e magicamente é transformado em menino novamente, Quando eu voltar a ser criança é mais um daqueles livros que parecem infantis, mas que na verdade foram escritos para adultos. Conservando suas memórias da vida adulta, o protagonista tem de volta sua tão sonhada infância, com todos os reveses dos quais já havia se esquecido. Agora novamente menino, ele tem que lidar com sua própria sensibilidade; uma grande curiosidade pelo mundo, pelas pessoas e pela vida; sua imaginação sem fim; e algo maior ainda: a incompreensão dos adultos.
De volta a uma idade em que sua personalidade e seu entendimento sobre o mundo ainda estão sendo formados, o protagonista é entregue de volta a um mundo nem um pouco justo: um mundo em que todos lhe dizem o que fazer; todos falam alto; todos o recriminam pelo que fez e também pelo que não fez; ninguém o ouve; ninguém pensa em seus sentimentos; ninguém se pergunta o que ele está pensando; ninguém lhe dá a devida importância. Porque, afinal, ele é apenas uma criança? Que importância têm os pensamentos de uma criança?
Pois bem. Nós vamos junto com ele para esse mundo que já conhecíamos, mas do qual havíamos nos esquecido. Através das páginas do livro, revivemos algumas pequenas alegrias e outros grandes desgostos da infância.
O livro Quando eu voltar a ser criança apareceu de uma forma inesperada na minha vida: eu o encontrei disponível para doação em uma biblioteca pública da minha cidade. Como sou simplesmente apaixonada por livros narrados por crianças, fiquei interessada, e acabei levando-o. Demorei muito tempo para começar a ler, e quando resolvi fazê-lo, tinha muita expectativa de encontrar uma narrativa leve e deliciosa, repleta de encantos, que me traria de volta a imaginação infantil, como pouquíssimos livros são capazes de fazer. Me enganei. Não encontrei nada disso.
Embora a proposta (mostrar as dificuldades vividas diariamente por uma criança em meio aos adultos) seja interessante, o enredo não é nada surpreendente. Se você está pensando em ler este livro, não espere por uma história sobre uma grande amizade, ou sobre uma aventura incomum e inesquecível vivida por um garoto que no fim, tragicamente, teria de encarar a realidade e voltar à sua vida tediosa de adulto. Sinto informar, mas nada disso acontece. Aliás, nada de surpreendente acontece!
Ao longo das duzentas páginas deste livro, acompanhamos o narrador-personagem em suas idas à escola, suas conversas com os colegas, suas brincadeiras com outros meninos, suas obrigações em casa como filho e irmão mais velho... E nada mais. Ficamos por dentro do julgamento infundado que os adultos muitas vezes fazem com as crianças - reclamando, falando alto, debochando, ignorando - e chegamos até a nos identificar com algumas das reflexões do protagonista, que fala que quando voltar a ser adulto será diferente... Mas não passa disso.
A narrativa é simples, como se deve esperar de uma história contada por uma "criança", mas chega a ser muitas vezes enfadonha, entediante.
Embora estivesse incomodada com a falta de acontecimentos relevantes da narrativa, não quis interromper a leitura. Prossegui devagar, "empurrando com a barriga", levando mais de duas semanas. Chegando ao fim, eu ainda estava entediada. Sem querer ser injusta no momento de resenhá-lo, decidi pesquisar sobre a vida de seu autor, e assim pude compreender um pouco o seu objetivo ao escrever essa história.
Nascido em Varsóvia (capital da Polônia), Janusz Korczak foi médico, pediatra, pedagogista, publicista, escritor, autor infantil, ativista social, e oficial do Exército Polaco. Desde jovem interessava-se pela educação das crianças, e defendia sua emancipação, sua autodeterinação e o respeito aos seus direitos. Inovou no campo da pedagogia e da teoria e prática educacional. Seu verdadeiro nome era Henryk Goldsmit, mas por não poder publicar oficialmente na imprensa devido ao fato de ter sido aluno do liceu, utilizou diversos pseudônimos ao longo da vida. Foi premiado por sua escrita, e deixou uma vasta obra, tanto literária, quanto de textos publicados em revistas. Fundou dois orfanatos em Varsóvia, e dirigiu o primeiro deles, o orfanato Dom Sierot, e o dirigiu por trinta anos, desde 1912, até o fechamento em 1942. Por ser judeu, foi confinado no Gueto de Varsóvia durante a ocupação dos nazistas na Segunda Guerra Mundial. Teve a oportunidade de obter documentos falsos e fugir, mas recusou-se, preferindo permanecer com as crianças do orfanato. Manteve, desde 1939, um diário, no qual escreveu pela última vez no dia 4 de agosto de 1942. Permaneceu com os órfãos até o fim, quando foi deportado, junto com cerca de 200 crianças e outros educadores, para o campo de extermínio de Treblinka, onde foi assassinado.

Trecho retirado de artigo da Wikipédia. Clique na imagem para ampliá-la.

Pesquisando, sobre o autor, compreendi melhor sua proposta ao escrever o livro que tanto me desagradou, principalmente quando li sobre as principais ideias que Korczak defendia (ver imagem acima). Finalmente pude entender a ideia encerrada na simples narrativa do livro, mas minha opinião permaneceu a mesma. Embora eu concorde com algumas das ideias defendidas pelo autor - e tenha passado a admirá-lo pelo esforço que fez em prol das crianças, e pela forma como morreu - continuo afirmando que não é uma história divertida. Não há um enredo criativo, ou mesmo algo que torne a história empolgante. O que realmente nos leva a ler até o fim é a vontade de compreender aquilo que Korczak quis mostrar nos colocando na pele de seu personagem que poderia ser ele mesmo.
Não vou finalizar a resenha afirmando que recomendo a leitura para todos, pois estaria mentindo. Recomendo para pais, professores, psicólogos, e pessoas que trabalham ou convivem com crianças de alguma forma. Caso queiram conhecê-las melhor, e entender como as maltratamos diariamente, aí sim ele será uma boa leitura.

Aspecto positivo: narração fiel dos sentimentos e pensamentos típicos de uma criança, e dos problemas causados pela indiferença dos adultos.
Aspecto negativo: enredo pouco criativo; narrativa entediante; falta de elementos que tornem a história empolgante.

Por: Lethycia Dias

Referências bibliográficas:
WIKIPÉDIA. Janusz Korczak. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Janusz_Korczak>. Acesso em: 01/09/2015
WIKIPÉDIA. Treblinka. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Treblinka>. Aceso em: 01/09/2015

2 Comentários

  1. Acabei de ler o livro, confesso que demorei mais de 4 meses. rs
    Logo que cheguei ao fim (?) tive que procurar alguém que comentasse sobre o mesmo, com a esperança de entende-lo melhor.
    Assim como descreveu, a narrativa é cansativa, repetitiva e nada empolgante. A leitura, claro, vale para entendermos o que fazemos, como agimos em relação as crianças que dizemos amar e querer o melhor.
    Sua resenha me ajudou muito.
    Grata

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  2. Achei a leitura fácil. E me ajudou a entender e respeitar mais as criança. Como mãe de sete filhos e professora promaria, acredito que o autor conseguiu sim, mostrar como devemos lembrar de nossa própria infância e compreender nossas criança. Fazem 25 anos que li esse livro. Recomendei para varias colegas, dei alguns de presente, porque entendi que os adultos precisam lembrar o que é ser criança para não ser injusto com elas.

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