Confira!

"Antologia indispensável com o melhor dos contos do grande escritor brasileiro. Conheça o Brasil de Machado de Assis, os personagens e as situações que fazem dele um dos maiores expoentes da literatura em língua portuguesa. Um homem que tem prazer em torturar ratos, e encara a morte da mulher com a mesma satisfação; outro que, abandonado numa fazenda, se olha num espelho e descobre que seu reflexo desapareceu; uma mulher tão obcecada em esconder a idade que impede a filha de se casar; um afortunado compositor de melodias populares que deseja desesperadamente escrever música clássica; um rapazinho de quinze anos que se deixa empolgar pela visão dos braços de uma mulher mais velha; um casal empobrecido que adora dançar e termina esbanjando numa festa o prêmio ganho na loteria... Essas são algumas das situações e personagens desta nova antologia de contos e Machado de Assis que inclui textos famosos, mas também escolhas menos usuais, além de uma apresentação convidativa e notas esclarecedoras. Seja você um aficionado pela obra de Machado de Assis ou apenas um entusiasta da boa literatura, a amplitude e a sutileza destes escritos, o prazer que se extrai da maneira como as histórias são contadas e da observação de pequenos detalhes vão fazê-lo ler, reler e redescobrir o maior escritor brasileiro. Carlos Drummond de Andrade dizia que ler Machado de Assis era uma tentação permanente, quase como um vício a que tivesse de resistir; não há melhor lugar para se dedicar a esse vício do que neste livro."

Autor: John Gledson*
Gênero: Contos
Número de páginas: 494
Local e data de publicação: São Paulo, 2007
Editora: Companhia das Letras
*John Gledson é considerado o autor deste livro por ter feito a seleção dos contos.
Onde comprar: Amazon |  Fnac | Submarino


A tão esperada descoberta


Eu não consigo descrever a leitura desse livro de outra forma. Não me lembro de quando exatamente vi esse livro na vitrine de alguma livraria ou nos anúncios de alguma loja virtual. Mas uma coisa é certa: eu esperei por muito tempo para ler esse livro. E toda essa espera valeu a pena! Depois de ter lido alguns contos de Machado espalhados entre uma e outra antologia por aí, e até para realizar trabalhos escolares, criei uma admiração muito grande pelos contos de Machado de Assis (eu costumo dizer que gosto mais deles que dos romances), e tinha muita vontade de ler mais dessas histórias. Foi ótimo ter finalmente feito isso!
Como o título anuncia, o livro reúne 50 contos escritos por Machado de Assis, sendo uma delas o conto/novela O Alienista, uma das histórias mais famosas escritas por Machado. E, para repetir o que é dito na sinopse, nele estão presentes os contos mais conhecidos e e também aqueles que se destacaram pouco com o passar do tempo - mas nem por isso deixam de ser importantes. As histórias que compõem o livro foram escritas entre os anos de 1878 e 1906. Perceba a diferença de quase trinta anos entre a escrita de O machete (o primeiro conto da coletânea) e Pai contra mãe (o último). A organização das histórias de acordo com a ordem em que foram escritas/publicadas é importante para que possamos observar o desenvolvimento da escrita de Machado. Notamos, com a evolução das histórias, que um grande escritor talvez não seja genial desde sempre: é um amadurecimento constante. Porém, há exceções: O Alienista é o terceiro conto deste livro, e já dava sinais de trabalhos incríveis que Machado faria no futuro.
Para fazer um breve resumo do que encontraremos aqui, vou citar os enredos de algumas histórias: um texto que retoma a narrativa bíblica para imaginar uma situação de conflito entre os filhos de Noé, ainda dentro da arca; um homem que invoca o espírito de um célebre personagem da Grécia Antiga; um homem que procura um conhecido para lhe pedir um empréstimo, e que, recebendo recusas, insiste até o fim; a carta de um suicida, contando sua história; o enfermeiro que mata um paciente, mas recebe toda a sua herança; um homem que encontra um canário falante. Algumas ainda são bastante inusitadas, como A sereníssima república, que descreve o funcionamento de uma sociedade organizada composta por aranhas; ou mesmo A igreja do Diabo, em que o próprio Diabo deseja fundar uma religião para competir com Deus.
E, é claro: estão presentes também os contos mais conhecidos e admirados de Machado, que eu já conhecia de leituras anteriores: Teoria do medalhão, Conto de escola, A cartomante, A causa secreta, O caso da vara e Missa do galo, entre outros.
Esta edição também contém uma introdução muito bem escrita, repleta de informações sobre a vida de Machado e reflexões críticas sobre seus escritos. Logo no início, destaquei um trecho com o qual me identifiquei completamente: "Carlos Drummond de Andrade dizia que ler Machado de Assis era uma tentação permanente, quase como se fosse um vício a que tivesse de resistir: não há melhor lugar para se dedicar a tal vício do que este livro.".

Foto compartilhada no meu Instagram durante a leitura.
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"Ninguém queria acabar de crer, que, sem motivo, sem inimizade,
o alienista trancasse na Casa Verde uma senhora perfeitamente ajuizada,
que não tinha outro crime senão o de interceder por um infeliz."

Como você deve ter notado acima, as temáticas são bastante variadas. A linguagem é aquela que já conhecemos dos nossos escritores clássicos, e sei que é isso que intimida muita gente na hora de ler autores como Machado; eu também fico um pouco confusa, mas já estou acostumada com histórias assim, que usam palavras e expressões que já não usamos. Porém, recomendo o uso constante de um dicionário. E claro, quem já leu algum livro de Machado, já sabe o que deve encontrar pela frente: referências de datas, nas quais conhecemos apenas o século (18...), pois o próprio autor corta a década e o ano; algumas digressões que introduzem a história (e que o próprio narrador reconhece serem dispensáveis), como essa em Primas de Sapucaia: "Rigorosamente, todas essas notícias são desnecessárias para a compreensão da minha aventura; mas é um modo de ir dizendo alguma coisa, antes de entrar em matéria, para a qual não acho porta grande nem pequena; o melhor é afrouxar a rédea à pena, e ela que vá andando, até achar entrada.". Sim, ele realmente disse que estava "enrolando" antes de começar de verdade! Mas faz parte do estilo e da ironia de Machado.
E já que falei da ironia, preciso dedicar um parágrafo inteiro a ela. As histórias de Machado estão repletas de críticas sociais; algumas delas são explícitas, como em O caso da vara e Pai contra mãe. Ou mesmo em O alienista, em que os métodos de doenças mentais são questionados. Mas em muitas dessas histórias estão contidas as ideias políticas de Machado, ou críticas à hipocrisia da sociedade, e aos "bons costumes"; em muitas delas, a crítica está composta em forma de humor.
Preciso acrescentar, ainda, que nem todas as histórias seguem a estrutura de conto que conhecemos; algumas são feitas apenas de diálogo. Outras não chegam a ter um momento de clímax marcante, seguindo sempre o mesmo ritmo, do início ao fim. Tive dificuldade de entender algumas delas, como O segredo do Bonzo, Conto alexandrino e As academias de Sião, que recriam ambientes muito "exóticos" para nós. Creio que, para histórias como essa, eu preciso de mais bagagem de leitura. Provavelmente, outros leitores também devem ter problemas semelhantes aos meus. Porém, a maioria das histórias é bastante compreensível, e podemos nos divertir muito com algumas, como O empréstimo e Evolução, além de ficar bastante chocados com outras, como A cartomante e A causa secreta.
As histórias variam entre narração em primeira e terceira pessoa. Mas em algumas, por exemplo, é difícil definir a forma da narração, e mesmo definir quem é o narrador. Em Um espelho, por exemplo, somos apresentados a uma roda de homens que conversam, e a princípio, tudo parece ser contado em terceira pessoa; quando um deles entra na discussão e começa a contar sua história (que é na verdade a história principal), então temos a impressão de entrar num outro conto, narrado em primeira pessoa. A mesma coisa acontece em Uma noite, quando dois oficiais do exército conversam, e um deles lhe conta sua história de amor mal-sucedida; chegamos a esquecer que os dois estão ali, trocando experiências; e nunca conhecemos o fim da história, pois algo acontece antes que o tenente Isidoro termine de falar, interrompendo-o. Durante toda a leitura, eu fiquei muito intrigada com esses recursos narrativos usados por Machado, e que não encontramos com frequência hoje em dia.
A compreensão das histórias é facilitada pelas notas de rodapé, que procuram explicar muitas referências que não compreenderíamos de início; uma citação de algum romance célebre na época, porém caído no esquecimento anos depois; uma menção de alguma personalidade importante na época, mas cujo nome se perdeu no tempo; uma referência a algum artista; palavras e expressões em francês; explicações sobre a política da época. Tudo isso poderia deixar a leitura confusa e prejudicaria o entendimento de piadas e discussões entre os personagens. Esse foi um aspecto bastante positivo da edição, pois outras antologias, principalmente as mais antigas, podem não conter tantas explicações.
Uma coisa que me incomodou no livro (não nas histórias lidas) foi o fato de ter sido organizado por um estrangeiro. Achei um pouco estranho que uma coletânea de contos do maior escritor brasileiro tivesse sido produzida por alguém que nasceu em outro país. Mas John Gledson, aparentemente, entende bastante da nossa literatura: ele é professor aposentado de estudos brasileiros na Universidade de Liverpool, e tem trabalhos publicados sobre Machado de Assis e Carlos Drummond de Andrade. Apesar de eu achar que temos estudiosos tão competentes quanto ele, quando eu li isso,percebi que ele sabia bem o que estava fazendo. A nota bibliográfica, que compara diversas antologias de contos e crônicas de Machado, além de estudos sobre ele, também demonstra o grande conhecimento de John Gledson. Fora isso, não tenho nenhuma reclamação ou crítica; as histórias são excelentes. Minha avaliação do livro é, sem dúvida, de cinco estrelas.
Recomendo a leitura para quem já admira Machado de Assis e quer conhecer melhor sua obra; para quem está acostumado com os "escritores clássicos" brasileiros, ou quer conhecê-los melhor; e também para quem está disposto a amadurecer um pouco mais suas leituras.

Avaliação geral:


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Aspectos positivos: a organização dos contos em ordem cronológica de escrita/publicação permite avaliar o amadurecimento de Machado como escritor; as diversas notas de rodapé presentes no livro melhoram o entendimento das histórias; foram selecionados contos famosos e também contos menos conhecidos, o que permite conhecer melhor a obra do autor.
Aspectos negativos: alguns leitores podem se incomodar com a falta de orelhas no livro.

Por: Lethycia Dias

6 Comentários

  1. Estou doida para comprar essa edição de presente para a minha irmã *_*

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    1. Ela é maravilhosa e muito bonita, sua irmã com certeza vai gostar! :)

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  2. Amei a resenha, esse livro já faz um tempinho que está na minha estante. Avisando também que indiquei seu blog para responder uma tag bem legal. Apareça por lá ^^

    http://coisasaserem.blogspot.com.br/2016/09/beds-tag-dias-da-semana-em-livros.html

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, Sara! Fico feliz que tenha gostado, e espero que possa ler em breve, porque ele é muito bom, eu adorei!
      E muito obrigada por ter me marcado na TAG, vou visitar seu blog, e responderei também assim que puder.
      Um grande abraço!

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  3. Machado é tão bom, mas tão bom que o único aspecto negativo é a falta de orelha no livro. Brincadeiras à parte, é raro ver uma resenha de antologia de contos tão bem feita como a sua. Eu até tenho um livro de contos do Machado mas não li ainda. Comprei O Alienista na Bienal e quero ler assim que possível porque sempre ouvi minha mãe falar bem deste conto. Aliás, foi ela quem me ensinou a gostar de Machado, ela adora!! Muito orgulho do meu sobrenome mesmo não tendo nada a ver com o escritor. Hahahahah

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    1. Kkkkkkkkkkkk
      Eu juro que sempre tento encontrar um aspecto negativo, mas dessa vez foi difícil! kkkkkk
      Eu passei a gostar tanto do Machado depois do Ensino Médio... Até hoje me arrependo de quando meu pai levou um monte de livros pra mim que uma tia ganhava e não queria mais, e eu fui separando os que queria e não queria, e dispensei uma coletânea do Machado, "A sereníssima república". Naquela época, eu achava bem chatos os livros clássicos brasileiros. Ainda bem que mudei essa opinião!
      Muito obrigada pelo carinho com esse elogio lindo que eu fico até sem jeito de receber... :)

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