Enchendo a estante
Encheu. É isso, não há mais nada para se dizer.
Minha querida estante, que começou um dia com alguns pequenos volumes, tão solitários no espaço vago, agora está cheia. Cheia. No more space. Não há disponibilidade para mais alguns. Bem que eu queria que aquelas duas prateleiras das quais me apossei tão timidamente na estante da sala fossem como coração de mãe, onde "sempre cabe mais um". Infelizmente, dize as lei da física que dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço, e assim, meus livros foram se acumulando um a um, multiplicando-se, e na ordem inversa, o espaço reduziu-se.
Me lembro de quando comecei a ocupar aquele espaço que parecia não ser de ninguém. Foi só mudar de lugar alguns objetos, e pronto: eu tinha um lugar para os meus livros (que eram poucos, mas pelos quais eu tinha, e ainda tenho, muito amor).
E foi assim. Fui preenchendo aquele espaço ao máximo que podia. Ganhava volumes novos no Natal e no aniversário, comprava alguns, sempre na esperança de aumentar aquela coleção maravilhosa. Às vezes, sentava no sofá, bem de frente para aquela estante cheia de objetos comuns da família, e ficava admirando aquelas duas prateleiras de baixo, aquelas que eram um mundo à parte, porque continham coisas só minhas. Ficava olhando e olhando, até me perder nas histórias que já conhecia ou que estava prestes a conhecer. Olha as lombadas de cores diferentes, com escrita em fontes de diversos tamanhos e cores, cada uma querendo comunicar algo fantástico. Se alguém me perguntasse: "O que está aí olhando?", eu responderia: "Estou olhando um infinito de outros mundos".
Porque era assim. Era? Mas nunca deixou de ser! Então refaço a afirmação, e digo que sempre foi e ainda é assim. Nos livros eu me transporto para outros mundos, conheço outras pessoas e vivo aventuras magníficas, descubro coisas, me torno crítica, exercito o pensar desde a observação mais banal, até o mais profundo pensamento filosófico.
De tanto colecionar livros, minha estante finalmente se encheu. Precisarei de muita criatividade para guardar os novos livros que virão: os que comprarei em promoções de lojas virtuais; os que ganharei de parentes amigos que respeitam e apoiam minha paixão; os que virão em sorteios (caso algum dia eu ganhe um!). Tudo o que sei é que outros virão, e que terei de arranjar um lugar da casa para colocá-los, sem desprezar os antigos. Ah, livros, por que os amo tanto? Nem sei ao certo, mas sei tentarei acolher a todos os novatos que vierem. Quem sabe eu acabo comprando uma estante de verdade?