Confira!

"Baseada em um espisódio do livro Nos domínios da mediunidade, de André Luiz/Chico Xavier, Isabel Scoqui recria a história da moça do espelho, Estefânia, que em duas encarnações fora abandonada e cujo trauma paralisou-lhe a mente por 200 anos. Durante esses dois séculos a moça só consegue visualizar repetidamente as mesmas cenas, fixada na lembrança de um retrato e de um espelho ofertados por seu noivo, que viajou para a França com promessas de retorno não cumpridas. Confiante, a jovem continuou a esperá-lo. A moça do espelho apresenta Estefânia duas centenas de anos depois, mais uma vez reunida a seus afetos do passado. É a ação da Providência Divina, sempre nos mostrando que só o amor resgata as criaturas de seu mundo de sofrimento, acenando com novas possibilidades de reajuste e progresso espiritual."

Autor: Isabel Scoqui
Gênero: Romance espírita
Número de páginas: 200
Local e data de publicação: Capivari (SP), 2013
Editora: EME

Uma história mal contada


Esse livro está na minha estante desde janeiro. Eu o ganhei de presente, e tinha tantos livros novos para ler, que mal conseguia me organizar (na verdade, ainda não estou conseguindo lidar muito bem com essa grande quantidade). Durante esses meses todos, ele foi sendo lido pela minha mãe e pelas minhas tias, enquanto eu lia outras coisas. Só pouco tempo atrás foi que eu resolvi acabar de vez com a curiosidade sobre ele e ler de uma vez.
Como eu indiquei acima nas informações sobre o livro, trata-se de um romance espírita. Se você nunca leu nenhum livro desse tipo, é bom estar informado de que romances espíritas são mais ou menos voltados para pessoas que já conhecem alguns dos fundamentos do espiritismo. Alguns deles são: a vida após a morte, a reencarnação, a lei de causa e efeito, e as interferências (positivas ou não) de espíritos desencarnados em nossas vidas. Se você já entende um pouco sobre essas coisas, sua leitura será melhor; mas creio que também é possível compreender o livro sem conhecer esses fundamentos básicos. Quero apenas ressaltar que não se trata de um livro doutrinário! Não é um livro para convencer pessoas a serem espíritas; é um livro escrito de acordo com fundamentos do espiritismo, mas qualquer pessoa pode ler sem se sentir impelida a acreditar no que está lendo. Você pode ler este livro encarando-o como uma obra de ficção; no momento em que terminar, nada daquilo será real para você.
Então vamos ao enredo! Logo no início, Isabel Scoqui deixa bem claro que a história contada em A moça do espelho é inspirada em um relato lido no livro Nos domínios da mediunidade. Ela nos conta que a cena narrada no livro a impressionou, e a partir de pesquisas posteriores, ela decidiu escrever.
Estefânia é uma mulher jovem e bonita, que viveu no Brasil no início do século XIX, e que foi abandonada pelo noivo Jacques, que partiu para a França prometendo voltar para se casar com ela, porém acabou casando-se com outra, e nunca voltou. Ele lhe havia dado um espelho, e mais tarde, um retrato. Ela alimentava tantas esperanças de que ele voltaria, que quando desencarnou, seu espírito estava obcecado pela lembrança desse amor. Ela sequer percebeu que havia morrido, e permaneceu ligada ao espelho e a uma escrivaninha que havia pertencido a Jacques. Dois séculos depois, lá está Ana Maura: ela namora há muito tempo com Frederico, e o ama muito, mas não tem certeza sobre os sentimentos dele. Ela recebe como herança uma velha escrivaninha, e começa a planejar seu casamento com Frederico. Acontece que Frederico é Jacques reencarnado, e Ana Maura é a outra mulher com quem ele se casou depois de abandonar Estefânia. A partir daí, vários espíritos desencarnados que possuem relações de afinidade com eles e com Estefânia passam a fazer o possível para melhorar a relação dos dois e despertar a "moça do espelho" de suas lembranças do passado.
É um livro relativamente curto. Possui 200 páginas, com capítulos muito curtos (em média, 3 páginas cada um). A leitura é muito rápida, pois não é uma escrita muito detalhada. A autora descrever apenas aquilo que é indispensável, e assim, o texto é enxuto, quase seco. Não existe aquele caráter de acompanhar cada momento ao lado dos personagens, e por isso, podemos dizer que várias coisas acontecem de forma extremamente resumida.

"Estefânia sentia saudades. Não era uma saudade com urgência de reencontro.
Era uma saudade permanente, cozida no fogo do tempo, entranhada na alma.
Uma verdadeira fixação mental."

Como fazia muito tempo que eu não lia nenhum livro espírita, estranhei várias coisas. Vocês devem ter percebido, por exemplo, que eu não gostei da forma que o texto é escrito. Não foi uma leitura muito agradável. A história envolvendo Ana Maura, Frederico e a Estefânia desencarnada não muito cativante ou emocionante, embora seja interessante observar como muitas coisas em suas vidas são causadas por seus erros e encarnações anteriores. Fora isso, realmente não chega a ser uma história muito boa.
Eu teria adorado ler a história completa do amor mal-sucedido de Estefânia e Jacques. A autora poderia ter escrito um romance histórico genial, considerando que a família de Jacques (de origem francesa) precisou fugir de seu país de origem quando começava a Revolução Francesa. Eles viveram em Portugal e também no Brasil. Aliás, o ano em que Jacques partiu foi 1808, o mesmo ano em que a família real portuguesa chegava às terras brasileiras. Todos esses fatos, sem sombra de dúvida, teriam rendido um romance impressionante. Sem falar que Jacques era um pianista extremamente talentoso, e viveu na alta sociedade francesa durante a época do Romantismo. Eu teria adorado ler páginas e mais páginas sobre suas composições musicais, e sobre o quanto ele se arrependeu de ter deixado a noiva no Brasil.
Por outro lado, uma outra história poderia ter surgido a partir daí. A moça do espelho poderia ser uma história de suspense ou terror. Ana Maura e Frederico poderiam ser um casal de namorados vivendo juntos e felizes (sem nenhuma complicação aparente), até o dia em que ela recebe a famigerada escrivaninha, contendo em suas gavetas o espelho, o retrato de Jacques, e algumas de suas partituras. O espírito de Estefânia, amargurado, poderia assombrar aqueles objetos, causando complicações na vida de Ana Maura e Frederico. Eu creio que essa também teria sido uma ótima história!
Entendo que a autora queria relatar acontecimentos de acordo com o ponto de vista espírita, tentando mostrar os males causados pelo rancor e pelo apego aos bens materiais. Mas essa realmente não foi a minha melhor leitura. 
Sendo assim, A moça do espelho permanece sendo apenas uma capa bonita na minha estante. Eu recomendo a leitura para quem gosta de romances espíritas, ou para quem tenha ficado curioso com essa resenha. Caso contrário, pode acontecer com você o mesmo que aconteceu comigo: criar expectativas demais e se decepcionar.

Aspectos positivos: linguagem simples e informal; capítulos curtos; explicação de alguns dos fundamentos do espiritismo.
Aspectos negativos: texto enxuto, pouco detalhado; a autora deixou de aproveitar grandes oportunidades para a constituição de uma história melhor.

Por: Lethycia Dias

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