Confira!



Faz um bom tempo que eu não publico nada na coluna de Dicas de Português e Escrita, por isso, estou aqui hoje com mais um post dessa categoria que sempre faz sucesso aqui no blog. Se você é novo visitando o blog, quero deixar claro que criei essa categoria de posts para ajudar pessoas usando a minha facilidade para escrita. Eu não sou professora nem nada do tipo, mas a maioria dos posts de dicas são baseados em pesquisas, e no final de cada um você pode encontrar as referências bibliográficas que eu utilizei.


Gerundismo


O gerúndio é uma forma nominal do verbo, que não varia de acordo com o tempo ou modo, e nem de acordo com gênero ou número do sujeito da oração. Vou explicar melhor na frase abaixo:

Ana e Jéssica estão se dedicando muito aos estudos.

O palavra destacada em negrito é o gerúndio do verbo dedicar, e indica uma ação que acontece no momento em que é dita, ou mesmo, que ainda não está completa, que permanece em prática. Ana e Jéssica não se dedicaram, e nem vão começar a se dedicar ainda. Elas permanecem se dedicando.
É uma forma verbal bem comum no nosso idioma. Mas no Português europeu, o gerúndio não existe. Um português diria que "Ana e Jéssica estão a se dedicar", por exemplo.

O gerundismo é o uso excessivo de verbos no gerúndio, sem que essa forma verbal seja indispensável. Assim, acaba se tornando um vício de linguagem. Sabe quando você o operador de telemarketing diz que vai "estar transferindo a ligação para o setor responsável" e você se sente um pouco incomodado com a colocação daquela frase? É mais ou menos isso. Observe o parágrafo a seguir:

"Em regiões pobres as pessoas assistem mais a tevê do que leem, podendo-se observar que os níveis de desenvolvimento na educação e na cultura não atingem valores significativos, acarretando graves consequências sociais."

Percebeu o uso do gerúndio duas vezes? As frases poderiam ser reescritas de forma que soassem melhor:

"Em regiões pobres as pessoas assistem mais a tevê do que leem. Pode-se observar que nelas os níveis de desenvolvimento na educação e na cultura não atingem valores significativos, o que acarreta graves consequências sociais."

Quando o parágrafo foi reescrito, as frases ficaram mais bem colocadas, e até mais claras. No primeiro exemplo, o verbo "podendo-se" gera ambiguidade. Quem é que pode observar? As pessoas pobres mencionadas na frase anterior? Ou qualquer outra pessoa, que esteja atenta a isso? No exemplo corrigido a dúvida é sanada: quem pratica a ação de "poder observar" é um sujeito indefinido, e pode ser qualquer pessoa.
Não existe uma regra clara para poder consertar frases do tipo, e nem uma regra para definir quando um texto tem excesso de verbos no gerúndio. Tudo vai depender da atenção de quem escreve e de quem lê. Se ao escrever ou ler um parágrafo, você sente certo incômodo com as colocações, é um sinal de que ele poderia ter sido escrito de maneira diferente. Então, na próxima vez que escrever um texto, fique atento: será que o incômodo acontece? Se sim, procure identificar o motivo de tal incômodo, e use sua criatividade para tentar modificá-lo. Confira nas frases abaixo:

- "Os adultos devem se qualificar para o emprego, possibilitando uma melhor qualidade de vida."
- Os adultos devem se qualificar para o emprego, o que possibilita uma melhor qualidade de vida."

Agora, vamos à segunda parte desse post:

Ondismo


Observe a frase a seguir:

"O gramado onde o atleta resolveu acampar era malcuidado."

Essa frase é na verdade a junção de duas. Embora não haja nenhum ponto separando-as, existem dois verbos, o que indica duas orações diferentes.

O gramado era malcuidado. O atleta resolveu acampar no gramado.

No primeiro exemplo, a palavra onde é um advérbio relativo, e têm a função de fazer com que o termo ao qual se refere apareça na oração como um adjunto adverbial de lugar. Isto é: uma palavra dita anteriormente e compreendida como lugar, passa a ter determinada qualidade atribuída a ele em uma oração adjetiva. O gramado é um lugar, e a palavra onde o retoma para que a frase possa ser simplificada.

O ondismo é o uso indiscriminado da palavra onde, sem que esteja se referindo necessariamente a um lugar. Ele acaba sendo usado para juntar duas orações, mas não explica o sentido verdadeiro entre elas. É o que acontece na frase abaixo:

"Esses indivíduos possuem o humor instável, onde muitas vezes irrita as pessoas."

Percebeu como fica estranho? Por não estar cumprindo sua função correta, a palavra onde prejudica a coesão da frase. Caso o onde seja substituído por outra palavra, a frase recupera o seu sentido e a sua estética:

"Esses indivíduos possuem o humor instável, que muitas vezes irrita as pessoas."

Assim não soa muito melhor?
Em ocasiões como essa, a palavra onde pode ser substituída por outras palavras ou expressões que também têm a função de ligar duas orações diferentes. Os exemplos a seguir mostram como fazer isso:

- "A qualidade de vida melhorou com a Revolução Industrial, onde as massas começaram a consumir mais."
- "A qualidade vida melhorou com a Revolução Industrial, que fez com que as massas começassem a consumir mais."
- "Isso se deve à mania comparativa, onde hoje estamos nos comparando com os amigos, colegas de turma ou do trabalho etc."
- "Isso se deve à mania comparativa, com a qual hoje estamos nos comparando com os amigos, colegas de turma ou do trabalho etc."

Assim como no gerundismo, não existe regra correta para a substituição da palavra colocada de maneira errada. Vai depender do vocabulário, da atenção e da criatividade de quem escreve o texto. Assim como no post sobre o queísmo, não quero dizer que você deve deixar de usar o modo gerúndio ou a palavra onde. Quero dizer que você deve ter mais atenção ao usá-las, para evitar equívocos na hora de escrever.
Eu espero com isso ter sido capaz de ajudar mais um pouco. Gostaria de fazer posts de dicas de português com mais frequência, mas eles exigem pesquisa prévia e levam mais tempo para ficar prontos do que os posts costumeiros do blog. Por isso, esperem pelo próximo.

Por: Lethycia Dias

Referências Bibliográfica:
ARAÚJO, Ana Paula de. Gerúndio. Brasil Escola. Disponível em: <http://www.infoescola.com/portugues/gerundio/>. Acesso em: 12/05/2016.
ARAÚJO, Ana Paula de. Gerundismo. Brasil Escola. Disponível em: <http://www.infoescola.com/portugues/gerundismo/>. Acesso em: 12/05/2016
GERÚNDIO. Dicionário Priberam. Disponível em: <http://www.priberam.pt/DLPO/ger%C3%BAndio>. Acesso em: 12/05/2016.
ORAÇÕES SUBORDINADAS ADJETIVAS. Norma Culta. Disponível em: <1.asphttp://www.normaculta.com.br/oracoes-subordinadas-adjetivas/>. Acesso em: 12/05/2016.
VIANA, Chico. Não embarque no ondismo. Na ponta do lápis, 2014. Disponível em: <http://revistalingua.com.br/textos/blog-ponta/nao-embarque-no-ondismo-312780->. Acesso em: 12/05/2016.

8 Comentários

  1. Oi, Lethy!
    Amei seu post. Sem querer eu pratico os dois e morro internamente por isso. Quando percebo, tento mudar um pouco.
    Beijos
    Balaio de Babados

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Luiza! Acho que todos temos dificuldades. Mesmo quem tem facilidade com uma coisa, acaba tendo a falta de outra. É muito bom saber que estou sendo útil para ajudar.
      Um abraço, e obrigada pelo comentário!

      Excluir
  2. Lethycia eu queria ter conhecido o seu blog no cursinho! Você tem uma facilidade incrível para explicar gramática, deixa tudo mais claro! Parabéns, e continue nos dando dicas de português!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Quando pensei em criar o blog, um dos meus projetos era fazer análise de obras literárias para vestibular. Infelizmente, acabei desistindo porque tinha poucos desses "livros de vestibular" aqui em casa, apesar de já ter lido vários. Quem sabe algum dia eu consiga criar essa coluna?
      Quanto à gramática, eu me esforço para tentar explicar as coisas de um jeito que fique mais fácil, mais acessível. Às vezes todos os sites em que pesquiso usam o mesmo exemplo, e tento pensar em algo mais criativo. É muito chato começar texto dizendo: "A palavra tal pertence à classe gramatical x...". E em posts como esse, eu tento sempre pensar no que eu acharia se escrevesse uma frase e sentisse o tal incômodo.

      Excluir
  3. Muito bom essa dica, meus parabéns.

    Arthur Claro
    http://www.arthur-claro.blogspot.com

    ResponderExcluir
  4. O gerundismo eu já tinha reparado, aliás uso bastante :O vou começar a cuidar mais na hora de escrever! Só não uso esse "estar fazendo" "estar entrando em contato" :@ :@ :@ isso é irritante demais kkk
    Essa do onde realmente tem frases em que perde totalmente o sentido, porque a palavra é usada no lugar errado.
    Ótimas dicas, Lethycia!

    Beijos,
    Kemmy - Duas Leitoras

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Realmente, frases como "estar entrando em contato" ficam muito feias! Ainda bem que temos o gerúndio para não ter que falar assim. O difícil é só saber usar direitinho! kkkk

      Excluir

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Entre em contato conosco!

Nome

E-mail *

Mensagem *

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...