Confira!




Na última quarta, quando acessei meu Facebook, vi vários perfis que sigo alertando sobre algo sinistro que estava acontecendo naquele momento no Twitter. Um homem conhecido como Michel Brasil havia compartilhado um vídeo em que ele e outros 32 homens exibiam o corpo mutilado de uma jovem que eles todos haviam acabado de estuprar. Eles faziam piadas, riam e mostravam as genitálias da garota inconsciente, orgulhosos do que haviam feito, e certos de sua impunidade. Os perfis que sigo estavam pedindo que o máximo possível de pessoas denunciasse o vídeo à polícia. Em questão de algumas horas, o perfil de Michel Brasil estava fora do ar, e já havia notícias de que a polícia local estaria investigando tanto o estupro quanto a publicação e os inúmeros compartilhamentos do vídeo. A repercussão do caso foi imensa. Eu acompanhei pelas redes sociais, li textos, vi imagens feitas em apoio à garota. E vi também os comentários maldosos e notícias que surgiram, na tentativa de culpá-la pela violência sofrida. Eu tive raiva, tive nojo, tive vergonha. E cheguei à conclusão de que precisava falar sobre esse assunto.


Violência contra a mulher no Brasil


Por que falar disso em blog exclusivamente literário? Vamos lá. Literatura não é apenas a "imaginação do autor". A literatura costuma refletir a sua época. E não precisa ser um livro realista para isso. Distopias, fantasias e outros gêneros podem ter críticas a alguma espécie de realidade. Podem resumir algum questionamento importante no momento em que foram escritos. Mesmo que a história seja improvável, provavelmente ela deve refletir alguma coisa real. E é a partir disso que eu justifico a necessidade de falarmos desse assunto tão delicado.
A palavra feminicídio foi criada para nomear "mortes de mulheres decorrentes de conflitos de gênero, ou seja, pelo fato de serem mulheres". Você sabia que entre os anos de 2001 e 2011, aconteceram mais de 50 mil feminicídos no Brasil? 50 mil mulheres brasileiras mortas. Não por doenças, não por acidentes de carro, não de causas naturais. A palavra feminicídio significa que elas foram mortas pelo pai, marido, parceiro, namorado, noivo, ou qualquer outro homem, em qualquer situação que reflita desigualdade de gênero. Esse número é revelado por uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Dados estatísticos do ano de 2013, divulgados pelo Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública revelam também que só no ano de 2012, ocorreram 50 mil casos de estupro no Brasil. Acontece que essas estatísticas são baseados em denúncias. O número real pode ser muito maior.
Como se isso já não fosse absurdo o suficiente, existem pessoas que se sentem no direito de culpar a vítima (clique nas imagens para ampliá-las):

Comentários de pessoas que consideram vítima de estupro responsável pela violência sofrida.
Fonte: Reprodução. Empodere Duas Mulheres.

Pessoas tentam dizer que a vítima deveria ter se prevenido. E notícias mostram que não existe prevenção.
Fonte: Reprodução. Empodere Duas Mulheres. 

E é nessas horas que eu sinto vergonha de ser humana.

Cultura do estupro


Em famílias mais conservadores, os filhos costumam ser incentivados a "namorar muito", enquanto as filhas são pressionadas a "se preservarem". Em outras palavras, isso significa que muita gente acredita que homens têm direito ao sexo, e mulheres não. Você sabe do que eu estou falando. Em seu livro Sejamos todos feministas, a escritora nigeriana Chimamanda Nigozi Adichie fala sobre isso:

"Ensinamos as meninas que elas não podem agir como seres sexuais, do modo como agem os meninos. Se temos filhos homens, não nos importamos em saber sobre suas namoradas. Mas e os namorados das nossas filhas? Deus me livre! (Mas obviamente esperamos que elas tragam pra casa o homem perfeito para casar, na hora certa). Nós policiamos nossas meninas. Elogiamos a virgindade delas, mas não a dos meninos (e me pergunto como isso pode funcionar, já que a perda da virgindade é um processo que normalmente envolve duas pessoas."

E isso acaba sendo problemático. Chimamanda propõe que devemos corrigir isso mudando a maneira de criar nossos filhos. Ela acredita que a maneira que criamos os filhos está errada. O vídeo abaixo, chamado "Dear Daddy", ou "Querido Papai", nos mostra que a maneira de educar garotos precisa ser modificada. E mostra também como nós, mulheres, nos sentimos com isso.


As imagens abaixo também falam sobre cultura do estupro. Clique para ampliá-las.

Fonte: Reprodução.
Fonte: Reprodução.


Em julho do ano passado, a Revista Superinteressante fez uma reportagem de capa sobre esse assunto. O texto, chocante, é iniciado com a história de uma menina que aos 11 anoz foi violentada, e foi obrigada pelo pai a se casar com o estuprador. E não pense que isso aconteceu em algum país de religião islâmica. Aconteceu no Brasil, em 1982. Para citar um trecho: "E, se você ficou na dúvida: sim, até 2002 existia na lei brasileira a possibilidade de o estuprador não cumprir pena caso ele se casasse com sua vítima".
As imagens da capa da revista e da reportagem foram amplamente divulgadas, e você deve se lembrar delas:

Imagem de capa da revista.
Fonte: Reprodução. Superinteressante.
Imagem de capa da revista.
Fonte: Reprodução. Quem mandou sair assim?


Após anunciar o tema da edição, a revista recebeu 104 mensagens de leitores contando suas histórias relacionadas a assédios, estupro e abuso sexual. As histórias foram publicadas, omitindo os nomes das vítimas. Na época, acabei me deparando com o link, e fui ler algumas. Li mais ou menos 30 delas, até onde aguentei, o máximo que pude até entrar em desespero. Em grande parte das histórias que li, a vítima era ainda criança ou adolescente quando sofreu violência sexual, o agressor era alguém próximo (avô, tio, cunhado, padrasto, amigo da família), a vítima não foi levada a sério quando tentou falar com a família sobre o que aconteceu, e desenvolveu problemas psicológicos, como depressão. Dias depois, a revista publicou mais 154 relatos, porém não tive coragem de ler.

A literatura


E chegamos aos livros. Acreditem, tudo isso tem a ver com literatura. Você deve se lembrar do que eu afirmei no início desse post sobre a literatura refletir a realidade. Muitas vezes, na tentativa de descrever ou criticar determinada realidade, escritores cometem erros em suas histórias, ao criar situações para seus/suas personagens. A intenção costuma ser boa, mas a descrição das cenas, a escolha das palavras e outros fatores podem acabar gerando efeito contrário.
Eu não me lembro de ter lido algum livro que fazia isso de maneira escancarada. Mas me lembro de ter lido muitas coisas absurdas em fanfictions, na época em que eu lia fanfictions. Me lembro de certa vez ter topado por acidente com uma fanfic em que uma garota, ao descobrir que tinha leucemia em estado terminal, decidia realizar todos os seus maiores desejos antes de morrer. E entre vários desejos bizarros e impossíveis para uma pessoa com câncer em estado terminal, em certa parte da história ela decidia cumprir o desejo que me fez tomar nojo daquela história: se prostituir por uma noite. Como se isso fosse o sonho de toda garota! E os absurdos não param por aí. Em muitas histórias, várias formas de violência são romantizadas, idealizadas, escritas como se fosse algo aceitável e normal. Histórias em que a personagem sofre violência sexual e se apaixona pelo agressor. Histórias em que a relação sexual é descrita de maneira pejorativa, causando incômodo no leitor. Tudo isso é muito comum em fanfictions. A Bruna Corrêa, do canal Diário de escritora, fez um vídeo sobre isso.



O assunto é tão importante, que rendeu 2 horas e meia de discussão no II Hangout Fight Like a Girl, organizado pelo blog Queria estar lendo. O Hangout consiste numa reunião online entre várias pessoas por meio de vídeo-conferência. O tema debatido este ano foi justamente a romantização da violência contra a mulher. Não apenas estupros, mas diversas formas de violência. A discussão foi extremamente ampla, e me abriu os olhos para muita coisa. Sei que o vídeo é extremamente comprido, mas, em todo caso, estou deixando aqui:


Essa foi a imagem usada para divulgar o Hangout:

Fonte: Reprodução. II Hangout Fight Like a Girl.

O escritor Oliver Fábio, autor do livro O céu de Miramar, também se posicionou sobre o assunto. Ele abordou o tema por um aspecto que eu não conhecia, o dos romances eróticos. Tirei um print do post dele no Facebook (clique para ampliar).


Ler isso só fez com que eu me sentisse ainda menos atraída a ler romances eróticos. Por favor, se alguém conhecer um que não seja assim, sinta-se à vontade para me indicar!
Ele já havia se manifestado sobre a violência contra a mulher de outra forma, em seu site, no texto intitulado Não é ficção, é realidade!. Na ocasião, ele publicou fotos de um ensaio que fez, no qual aparece vestido de mulher, com o objetivo de sensibilizar e conscientizar pessoas:

Oliver Fábio em um ensaio fotográfico de conscientização.
Fonte: Reprodução. Oliver Fábio.
Acho que já falei o suficiente sobre isso. Agora, acho importante deixar no fim desse post mais algumas imagens que vão deixar bem claro o que eu quis dizer o tempo todo:

Fonte: Reprodução.

Fonte: Reprodução.

Fonte: Reprodução.

Fonte: Reprodução. Rubros Versos.


Por: Lethycia Dias

Referências Bibliográficas:

ADICHIE, Chimamanda Nigozi. Sejamos todos feministas. 2012, Companhia das Letras.
ATITUDE, Compromisso e. Casos de estupro cresceram 18% no país (Agência Brasil 04/11/2013). 04 de novembro de 2014. Disponível em: <http://www.compromissoeatitude.org.br/casos-de-estupros-cresceram-18-no-pais-agencia-brasil-04112013/>. Acesso em: 27 de maio de 2016.
CORRÊA, Bruna. Diário 21# Sobre romantizar estupro nas fantfics. In: Diário de uma Escritora Blog. 19 de janeiro de 2016. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=_KxUYaiUjsk>. Acesso em: 27 de maio de 2016.
FÁBIO, Oliver. Não é ficção, é realidade! Sem data. Disponível em: <http://www.oliverfabio.com/2015/10/nao-e-ficcao-e-realidade.html>. Acesso em: 27 de maio de 2016.
FÁBIO, Oliver. Sem título. 26 de maio de 2016. Disponível em: <https://www.facebook.com/EscritorOliverFabio/posts/1620667184916>. Acesso em: 27 de maio de 2016.
FRIZZO, Eduardo Matzembacher. Causas do estupro. 26 de maio de 2016. Disponível em: <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1083476678371777&set=a.810245105694937.1073741825.100001283667932&type=3&theater>. Acesso em: 27 de maio de 2016.
GIRL, II Hangout Fight Like a. 20 de março de 2016. Disponível em: <htts:p//www.facebook.com/events/807482746023058/>. Acesso em: 27 de maio de 2016.
HUECK, Karin. Como silenciamos o estupro. Superinteressante. Julho de 2015. Disponível em: <http://super.abril.com.br/comportamento/como-silenciamos-o-estupro>. Acesso em: 28/05/2016.
HUMANOS, II Fórum sobre Feminismo e Direitos. Sem data. Disponível em: <http://forumfeminismocg.blogspot.com.br/2013/10/cultura-do-estupro-o-que-diz-o-direito.html>. Acesso em: 27 de maio de 2016.
INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. Violência contra a mulher: feminicídios no Brasil. Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/130925_sum_estudo_feminicidio_leilagarcia.pdf>. Acesso em: 27 de maio de 2015.
MULHERES, Empodere Duas. "Se ela não existisse, talvez não fosse estuprada". 27 de maio de 2016. Disponível em: <https://www.facebook.com/empodereduasmulheres/photos/a.793090670764923.1073741827.282908221783173/1087491637991490/?type=3&theater>. Acesso em: 27 de maio de 2016.
MULHERES, Empodere Duas. "Não existe cultura do estupro". 26 de maio de 2016. Disponível em: <https://www.facebook.com/empodereduasmulheres/photos/a.793090670764923.1073741827.282908221783173/1087161538024500/?type=3>. Acesso em: 27 de maio de 2016.
O que é a cultura do estupro? Sem data. Disponível em: <https://scontent-gru2-1.xx.fbcdn.net/v/t1.0-9/13255964_1098712063510133_4600349079149006189_n.jpg?>. Acesso em: 27 de maio de 2016.
QUEM MANDOU SAIR ASSIM? Quem mandou sair assim? 2 de julho de 2015. Disponível em: <https://quemmandousairassim.wordpress.com/2015/07/>. Acesso em: 28 de maio de 2015.
QUERIA ESTAR LENDO. II Hangout Fight Like a Girl. 20 de março de 2016. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=h1V1pvlV3U4>. Acesso em: 27 de maio de 2016.
REDAÇÃO SUPER. #ChegaDeSilêncio - 104 histórias de leitores que sofreram abuso sexual e/ou estupro. Superinteressante. 07 de julho de 2015. Disponível em: <http://super.abril.com.br/blogs/superblog/chegadesilencio-104-historias-de-leitores-que-sofreram-assedio-eou-abuso-sexual/>. Acesso em: 28 de maio de 2016.
REDAÇÃO SUPER. #ChegaDeSilêncio - Mais 154 relatos de leitores que sofreram abuso sexual e/ou estupro. 29 de julho de 2015. Disponível em: <http://super.abril.com.br/comportamento/chegadesilencio-mais-154-relatos-de-leitores-que-sofreram-abuso-sexual-eou-estupro>. Acesso em: 28 de maio de 2016.
ROMANTIZAR, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, 2008-2013. Disponível em: <http://www.priberam.pt/DLPO/romantizar>. Acesso em: 27 de maio de 2016.
RUBROS VERSOS. Sem título. Sem data. Disponível em: <https://rubrosversos.wordpress.com/>. Acesso em: 27 de maio de 2016.
WEB, Best. Querido Papai (Legendado). 18 de dezembro de 2015. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=jP-FOhkVxAI>. Acesso em: 27 de maio de 2016.

16 Comentários

  1. Ótimo texto! Parabéns mana! NUNCA SE CALE! você não está sozinha <3

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    1. Muito obrigada pelo apoio, Kamila! Fico feliz que tenha gostado. :)

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  2. Que texto maravilhoso!! Adorei sua iniciativa em abordar o tema, num momento tão sensível na história da luta das mulheres em nosso país. Infelizmente, a violência contra a mulher é muito comum, e não podemos confiar apenas nas estatísticas, visto que o crime é muito acobertado. Eu fiquei chocada com o caso do estupro coletivo e tive até mesmo uma discussão muito séria com um amigo que faz faculdade de direito e insistia em afirmar que não existe cultura do estupro. Já ouvi relatos, uns mais tristes que outros, de crianças abusadas graças à minha mãe, que trabalhava com saúde da mulher no SUS e participava do comitê contra o abuso infantil. São relatos chocantes e acredito que a vítima carregará este fardo para o resto de sua vida. Imagina quando acontece em criança, entao? É UMA VIDA QUE FOI DESTRUÍDA!! Graças à pessoas como o meu amigo, este crime é acobertado e negligenciado, e nós, como mulheres e de certa forma influenciadoras de pensamentos, devemos sim alertar sobre isso. Eu quero fazer o meu post sobre Lolita ainda, pois acho que este livro romantiza muito a pedofilia. Lethycia, você está de parabéns! Cumpre muito bem o seu papel de influenciadora digital ao compartilhar este texto maravilhoso. Toda visita ao seu blog é uma surpresa boa!

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    1. Muito obrigada por tudo, Lívia!
      Eu acredito muito na importância da conscientização. Conheci o feminismo na faculdade, em um debate organizado na semana do calouro. Mas só fui entender mesmo certas situações, quando comecei a acompanhar páginas no facebook, vendo imagens e lendo "textões". Se não fosse por isso, talvez eu ainda teria uma ideia muito errada sobre a violência contra a mulher. E sobre o papel de influenciadora, eu acredito muito nisso. Acredito que nós blogueiros estamos a todo momento influenciando opiniões, e se podemos usar nossas ferramentas digitais para falar daquilo que gostamos, também podemos usá-las para falar de temas importantes na sociedade, quando necessário.
      Eu vejo a violência sexual como algo tão destrutivo, tão devastador, que não consigo nem imaginar a força que uma pessoa precisa ter para superar esse tipo de abuso. Sendo criança, então... Só mesmo com muita compreensão da família, e sei que nem todas as vítimas têm isso.
      Quanto ao livro Lolita, volta-e-meia vejo o debate ressurgir. Algumas pessoas dizem que é romance, outras dizem que é romantização da pedofilia, e já ouvi também que é uma obra de combate à pedofilia, pois o Humbert, como narrador, tenta manipular o leitor, mas mesmo assim um leitor consciente consegue identificar a situação problemática. Acho que só vou poder tirar uma conclusão depois de ler pelo menos umas três vezes.

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  3. Ótimo texto!!!! Parabéns pela escrita, mana! Ótimos pontos, referências maravilhosas..... não devemos nos calar!<3

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    1. Muito obrigada! Fico muito feliz que tenha gostado do texto, valeu a pena ter escrito!

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  4. Arrasou, precisamos questionar mesmo a romantização da violência/estupro na literatura, como eu problematizei na minha resenha de Lolita e houve "pessoas" que me contradisseram dizendo que era uma estória de amor!
    Seu texto está tão didático que só não enxerga a verdade quem não quer!
    Sobre os livros Hot, como não leio não tenho como opinar, mas acredito que a subjugação da mulher deve ocorrer sim, não me surpreenderia, é só mais um reflexo do nosso pensamento machista em que a mulher vive em função do homem e aspirando ao casamento, temas que são maravilhosamente bem discutidos em Sejamos todos feministas, como você trouxe.

    Perfeito, me permita compartilhar!

    Beijos, Hel - Leituras & Gatices

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    1. Olá, Helena! Eu fico muito feliz que eu texto tenha atingido o objetivo, pois é um tema muito delicado e muito complexo. Tive insegurança, e cheguei até a pensar em não publicar. Também tive medo de receber comentários ofensivos, e por isso, ativei a moderação de comentários.
      Esse é um dos motivos que me fazem ter certo preconceito com livros hot, sabe? Porque assisti Cinquenta Tons de Cinza no cinema, e só consegui enxergar isso. Não achei nada libertador. Mas eu ainda espero algum dia receber a recomendação de um romance erótico que quebre essas ideias e que me faça enxergar esse gênero de outra forma.
      Sejamos todos feministas é uma leitura muito didática, e a desigualdade de gênero que a Chimamanda aponta na Nigéria é muito parecida com o que acontece no Brasil. Eu recomendaria para qualquer pessoa que quisesse conhecer o assunto.
      Agradeço pela visita e pelo comentário!

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  5. Muito bom ver um texto como o seu em um blog literário, porque não vivemos em um mundo de fantasias e podemos, sim, mudar essa realidade. Muitos valores devem ser discutidos, como o caso da literatura hot, tão em moda ultimamente. É triste ver como o caso foi, primeiramente, encarado pelo delegado. Como a garota andava, se vestia ou o que fazia não daria o direito a ninguém de violenta-la e expor tais imagens. Como bem fala no seu post, o número de casos de estupro é bem maior do que as estatísticas, pois a justiça não dá segurança e nem respeitam essas mulheres.

    http://atraentemente.blogspot.com.br/

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    1. Olá! Foi mais ou menos isso que pensei quando vi surgindo na minha mente a ideia desse post. Senti a necessidade de deixar um pouco de lado a minha zona de conforto, porque achei que continuar me refugiando no mundo dos livros e não comentar o caso seria uma negligência minha enquanto comunicadora.
      Nada que uma pessoa faça dá a alguém direito de desrespeitar sua intimidade e sua dignidade. É importante trabalharmos para que as pessoas entendam isso.
      Obrigada pela visita e pelo comentário!

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  6. Menina, que texto incrível! Parabéns! Juro, até arrepiei. Infelizmente nós feministas ainda temos muito que lutar, e já não é por nós, e sim pelas nossas filhas e netas. Pq esse machismo descabido tá longe de acabar.

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    1. Muito obrigada, Bruna! Fico feliz por ter alcançado meu objetivo com esse texto. Temos que lutar sim, para que um dia as mulheres possam viver sem o medo e insegurança que sentimos hoje.

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  7. Oi, Lethycia!
    Que texto lindo o seu! Tem muitas pessoas deturpando relacionamentos completamente abusivos e violências, lembro que há umas duas semanas fiquei chocada com uma discussão em um grupo literário onde perguntavam se Lolita era pedofilia oU ROMANCE. Chocada porque Nobovok escreveu um livro psicologicamente intrincado que denuncia de forma clara um abusador, uma violência praticada contra uma criança, e as pessoas insistem em ver como um romance; uma história que foi tão importante em sua época de lançamento, que instigou investigações sobre os efeitos na vida adulta de crianças sexualmente abusadas, que instigou discussões sobre o tema e ajudou a formar a consciência que temos hoje do crime. E as pessoas dizem que é ROMANCE. Eu não consegui nem terminar de ler o livro de tão psicologicamente perturbado que o protagonista era, de tão enojada com a narrativa dele e tem gente que realmente acredita se tratar de uma bela história de amor entre um homem com mais de 30 anos e uma criança de 11 que o seduziu!
    Eu fico muito triste com esse tipo de percepção que os leitores fazem e o wattpad é um prato cheio de histórias que romantizam, especialmente, estupro. E os livros eróticos que tem saído, então. É como se o livro erótico jamais pudesse fazer sucesso se não fosse sobre um cara manipulador e dominante que "se apaixona" por uma mulher-objeto. É bem difícil encontrar eróticos que fujam disso, mas fiquei bastante satisfeita com Amante Meu, o oitavo livro da série A Irmandade da Adaga Negra. Apesar da série, em si, ter lá seu machismo enraizado (coisa que melhor com o passar dos livros), o oitavo volume trata de estupro de forma clara e direta, sem culpabilização da vítima e com um apoio sensível entre os sobreviventes. Até onde eu posso lembrar, a saga dos Senhores do Submundo (sendo republicada no Brasil pela Harper Collins) também é bem livre desse tipo de coisa.
    Por fim, queria dizer que seu texto foi bem direto e didático, falou muita coisa que eu mesma queria falar, mas que estou simplesmente travada demais para conseguir por em palavras. Parabéns!

    bjs
    www.queriaestarlendo.com.br

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    Respostas
    1. Olá!
      Esse post foi realmente muito difícil de ser feito, acho que a quantidade de itens de referência mostra o quanto precisei pesquisar. E várias vezes tive dúvidas se o que eu estava escrevendo era certo ou adequado, mas eu precisava falar disso, eu não podia deixar passar.
      Já ouvi falar muito de Lolita. Mas me lembro que na primeira vez que ouvi falar sobre o livro, foi com alguém chamando de "romance". Aquilo ficou na minha cabeça, até que em outros debates entre leitores, vi pessoas que haviam percebido a manipulação e a relação abusiva. Até hoje ainda não li, e acho que preciso me preparar psicologicamente para isso.
      Quanto aos romances eróticos, tenho uma grande resistência. Me parece que todos são idealizados demais, sempre com relações sexuais perfeitas, sempre com personagens no padrão de beleza dominante, e sempre repletos de machismo. Mesmo tendo vontade de quebrar meu preconceito, ainda não encontrei um que despertasse meu interesse.
      Agradeço pela sua atenção em vir visitar o blog e ler o post, e fico feliz de ter atingido meu objetivo explicando tantas coisas delicadas.

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  8. Adorei o texto e concordo com tudo, mas preciso dizer que essa coisa de que cenas sexuais precisam ser românticas e sem palavrões é outra forma de repressão à mulher. Na sexualidade vale tudo, e se a mulher quiser falar palavrão? Se quiser ser xingada de puta? Ela pode. Aliás, ela pode fazer sexo casual, ela pode querer ler sobre isso também. O que é estranho é falar que sexo "respeitoso" à mulher precisa ser à luz de velas, lento, sussurrado. Não, gente. O problema não está no sexo, na forma como se faz, e muito menos em literatura que explora violência contra a mulher- isso tudo é fundamental!! O problema está em descrever um estupro com o mesmo linguajar de uma cena erótica, o problema está não em escrever sobre relacionamento abusivo e sim romantizá-lo e torná-lo "sonho de consumo" de mulheres. Ou seja, expor é BOM!!! Romantizar é péssimo :)

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    1. Olá, Cláudia! Fico feliz que tenha gostado do texto. Sim, expor problemas como esses é muito importante. Li outro dia um texto que tratava dessa questão. A autora dizia que existem dois tipos de livros: 1) que descreve cenas de abuso e violência de forma que o leitor possa interpretá-las de acordo com a sua visão de mundo; e 2) que descreve essas mesmas cenas, porém fantasiando, fazendo parecer algo bom e romântico.

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