Há mais ou menos três anos, eu tinha pouquíssimos livros, quase não comprava volumes novos, e só lia aqueles que pegava emprestado com amigos ou na biblioteca da escola. Foi mais ou menos nessa época que minha mãe pegou um livro emprestado com um conhecido nosso, pois ficou muito interessada no assunto tratado pelo livro. Eu também me interessei, e acabei lendo o tal livro assim que ela terminou. Me lembro que estava nas férias da escola, e tinha poucas coisas para fazer em casa, o tédio estava acabando comigo.
O livro era realmente muito bom, mas o que interessa aqui não é o assunto do livro, e sim algo que aconteceu enquanto eu estava lendo...
Naquele ano, depois de uma chuva muito forte, encontrei na rua três gatinhos filhotes. Eram tão pequenos, que os dentinhos mal haviam começado a crescer, e estavam sem a mãe. Como sou apaixonada por gatos, e por animais em geral, tive pena de deixá-los ali abandonados, molhados, com fome e com frio, onde podiam ser atropelados ou morrer de qualquer outra forma. Levei-os para casa, e fiz o possível para alimentá-los, e em uma semana, já havia arrumado uma nova família para cuidar de dois deles. O terceiro, acabei pegando para mim. Era tão fofo, tão lindinho, e eu gostei dele desde o início. Foi assim que passei a cuidar do meu Neném.
Desde quando o levei para casa, Neném era o mais espertinho e bagunceiro dos três filhotes. E conforme foi crescendo, só foi se tornando mais ativo e curioso. Se ficávamos sentados no sofá assistindo televisão, ele, no chão, brincava de morder os nossos dedos dos pés. E estava sempre correndo e pulando pela casa, vendo aquele mundo como seu parque de diversões particular.
Acontece que enquanto eu lia aquele livro, emprestado por um amigo, o Neném estava com alguns meses, e era ainda muito novinho. Com suas brincadeiras e "artes", vivia me fazendo rir. Acontece que num certo dia, eu estava lendo sentada no sofá, e aquele danadinho subiu querendo brincar, caminhando no meu colo, miando e pedindo atenção. Eu tentava desesperadamente afastá-lo e continuar lendo, e aprendi da pior maneira que devia ter fechado o livro e ido brincar com meu bebê felino.
Tentando brincar com minha mão, ele tocou na página que eu estava lendo, e acabou sujando a página. Eu não podia acreditar naquilo. Ele sujou a página! O que eu ia fazer agora?
Não, eu não sou uma dessas pessoas que ficam pirando porque a capa do livro amassou, ou uma das páginas ficou com orelha, e coisas assim. É claro que não gosto quando essas coisas acontecem com meus livros, mas isso não é o fim do mundo pra mim. O fim do mundo é quando alguém joga um livro fora, quando o livro começa a estragar, quando as páginas começam a se soltar; enfim, quando já não é mais possível ler.
Acontece que aquele era um livro emprestado, e sempre fui muito cuidadosa com coisas emprestadas. Como eu disse no início da história, eu tinha poucos livros, e sempre pegava emprestado com alguém. Por isso valorizava muito as pessoas que gostam de emprestar. E minha mãe sempre disse que devemos ter muito cuidado com as nossas coisas, e mais cuidado ainda com as coisas dos outros.
Por causa disso, eu estava surtando. O livro era emprestado, e meu gatinho sujou uma das páginas com sua patinha cheia de terra e lama. Por sorte, a página era de início de um capítulo, e o lugar onde ele tocou não continha nada escrito, era um espaço em branco; dessa forma, a sujeira não impediria ninguém de ler nenhum trecho. Mesmo assim, eu estava muito decepcionada comigo mesma, pois afinal, o gato era meu, e algo que ele fez de errado era responsabilidade minha.
Quando contei para minha mãe e lhe mostrei a página maculada, ela me disse que eu teria de contar tudo ao nosso amigo, e pedir desculpas pela minha falta de cuidado. Na oportunidade que tivemos de devolver o livro, eu estava com muita vergonha do que havia acontecido. Entretanto, eu não tinha outra escolha senão me desculpar.
Por sorte, o nosso conhecido que emprestou o livro compreendeu que não fiz nada de propósito e que meu gato não tinha ideia de que estava fazendo algo errado. Ele me desculpou, e disse que não tinha problema, e que entendia. Fiquei muito aliviada!
Desde então, hoje eu tomo muito cuidado se meus gatos querem ficar perto de mim quando estou lendo. Enfim... Melhor prevenir do que remediar, não é?
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