Há alguns dias, postei como status no Facebook o seguinte texto:
O que me motivou a escrever algo assim foi que eu havia acabado de me dar conta do quanto a literatura brasileira se tornou diversificada. Sempre admirei escritores brasileiros. Eu lia os clássicos, porque só tinha acesso aos livros deles. Assim, curti muito Machado, Alencar, Lima Barreto, Manuel Bandeira, Vinicius de Moraes, Cecília Meireles, Rachel de Queiroz, Erico Verissimo, entre outros. Raramente chegava até mim algo recente, algo escrito por alguém ainda vivo (estes seriam Jô Soares, Paulo Coelho, Pedro Bandeira).
Fiquei assim, explorando os nomes mais citados nos livros de Língua Portuguesa, e ignorando que surgia toda uma geração de escritores novos. Escritores e escritoras jovens, que vieram para quebrar tabus, romper com o estigma da literatura brasileira. Se achávamos que no Brasil não havia fantasia, vieram Renata Ventura, FML Pepper, Rafael Draccon e Eduardo Spohr com suas histórias fantásticas que conquistaram legiões de fãs. Achávamos que não existiam distopias, e surgiu Dêner B. Lopes, com Cidades-Mortas. Achávamos que faltavam relatos polêmicos, e Gustavo Magnani publicou seu primeiro livro, Ovelha - Memórias de um pastor gay. Achávamos que não havia bons livros com reflexões e pensamentos voltados para jovens, e surgiu Bruna Vieria com A Menina que Colecionava Borboletas. Achávamos que faltava terror e suspense, e veio André Vianco desmentindo nossa falta de conhecimento.
E com certeza, muitos outros devem existir. Muitos outros que cresceram rodeados de livros, e que um dia decidiram escrever as histórias com as quais sempre sonharam. Dizem que se você ainda não leu uma história que considerou maravilhosa, então você mesmo deve escrevê-la. Pois bem: eu acredito que eles tenham feito isso!
Mas vamos ao que interessa: naquele dia, o que me motivou a escrever 4 parágrafos tão convictos sobre o quão maravilhosos podem ser os livros escritos por brasileiros, foi que tive a oportunidade de ler a sinopse de um livro recém-lançado por uma jovem escritora que conheci através do Facebook.
Ah, como é maravilhosa a tecnologia! Você pode se comunicar, sem mais nem menos, com uma pessoa que está em outro continente. E pode se conectar com milhões de pessoas que se interessam pelas mesmas coisas que você. Foi assim que conheci Dêner B. Lopes, e vários outros escritores dessa geração jovem. Em um grupo de jovens escritores, vi a comemoração de uma garota dizendo que seu livro Onde as nuvens fazem sombra havia sido lançado na noite anterior. Cliquei no link indicado por ela para obter mais informações sobre o livro, e me deparei com uma pequena maravilha.
O link leva ao blog Jaula para dois, totalmente dedicado ao livro recém-lançado, e traz informações sobre a história em si, os personagens e os locais descritos no livro. Entrando em contato com a autora (descaradamente, enviei-lhe um pedido de amizade), tive acesso à sinopse, que me surpreendeu e me conquistou. Leiam abaixo, e vocês vão entender do que estou falando:
"A época de estiagem em Bazalta, pequena vila
brotada no meio de um sertão esquecido, tem perdurado há duas décadas. Quando
finalmente, porém, a tão esperada chuva começa e persiste através dos meses, os
brios no vilarejo se exaltam, principalmente na pequena casa que abriga a
família Manarca. Composta pela matriarca, seus cinco filhos e
uma nora, os Manarca veem se intensificarem seus medos e ânsias ao passo que a
chuva insiste sobre suas cabeças. Contíguo ao mau tempo cai sobre seu teto a
iminente loucura da mãe Vitória, que insiste em premonizar pragas; a doença de
Itálio, um de seus filhos que, desde feito viúvo, diz ter contraído o Mal do
Desamor; e o desaparecimento de Germano, outro filho, corrido de Bazalta em busca
do sol escondido e de respostas para seus mistérios juvenis. Enquanto sofrem
seus pesadelos pessoais, participam do desenrolar de uma lenda muito contada no
lugar, sobre o primeiro ser criado por Deus, dito O Homem, guardião das sete
chaves do purgatório e que, ao desgostar o Criador introduzindo entre Suas
outras criaturas o pecado original, fora expulso do paraíso e condenado a andar
para sempre por aqueles lados inacabados do mundo, esquecido por Ele como os
filhos de Bazalta se diziam.
'Onde as nuvens fazem sombra' fala da
existência humana apesar das adversidades, da nossa dificuldade em aceitar
mudanças, e como essas podem abalar nossa sanidade ou nos tornar guerreiros
mais fortes. É uma narrativa leve e rápida, concentrada nos desastres do dia-a-dia
dos personagens."
Muito entusiasmada, corri para conversar via bate-papo com Letícia Copatti Dogenski, e lhe falei do quanto estava interessada em seu livro, apenas lendo a sinopse. Falei que o enredo, a cidade perdida no nada, a chuva incessante, o "Mal do Desamor", me faziam lembrar muito das histórias de Gabriel García Márquez, vencedor do Nobel de Literatura que morreu há um ano. Muito agradecida pelos elogios, ela me disse que havia se inspirado na obra dele, o que me deu uma vontade imensa de reler Cem Anos de Solidão!
E lá estava eu, uma leitora esperançosa, contente por ter feito uma incrível descoberta literária. Eu podia sorrir feliz, acreditando que a literatura brasileira era mesmo tão boa quanto sempre acreditei. Mesmo sem ter ainda lido Onde as nuvens fazem sombra, naquele momento eu tive certeza de que estava frente a frente com algo maravilhoso, algo que, quando lido, poderia me render horas de encantamento, aquela maravilhosa sensação que só um livro muito bom pode nos dar.
Ainda no blog da jovem autora, soube que Leticia teria uma entrevista transmitida na TV Câmara, no dia 27 de agosto (amanhã), a partir das 9h15min. Só espero poder assistir à transmissão on-line!
Informações sobre a autora:
Letícia preparou no próprio blog um post específico para divulgar seus contatos, para quem estivesse interessado, e achei interessante reproduzi-los aqui.
Além disso, acessei o link para compra do livro que ela mesma fornecia (já estou planejando comprá-lo assim que puder), e vou deixá-lo disponível para vocês:
Eu sempre fui apaixonada por literatura brasileira, e acredito que estamos vivendo uma fase muito boa, repleta de criatividade e inovações, em que escritores jovens deixam transbordar toda a inspiração e influências que receberam através de anos de leitura apaixonada. Enfim, se depender destes jovens com quem tenho conversado pelas redes sociais, continuaremos muito bem!
Por: Lethycia Dias