Confira!


Talvez você tenha estranhado um pouco o título e a imagem de apresentação desse post, mas garanto que tudo será esclarecido rapidinho.
Em um post publicado há mais de um ano aqui no blog, eu falei de forma superficial sobre alguns "itens" que podem integrar um livro, e que muitas vezes são desprezados por leitores. Naquele post, eu falei um pouco sobre a introdução, os agradecimentos, as notas da editora, as informações do autor, a dedicatória, entre outros elementos que aparecem em um livro, antes ou depois da história em si, ou do conteúdo essencial. Eu falava que lia o livro inteiro, inclusive esses elementos, mas naquela época, cometi um erro, que foi o de tratá-los como "extras", quando alguns deles são na verdade muito importantes para a compreensão da leitura. E é disso que vamos falar no post de hoje.


Na resenha de Alice no País das Maravilhas, eu afirmei ter sentido falta de um texto de apresentação falando sobre os jogos de palavras, desafios matemáticos e críticas sociais que muitas pessoas dizem estar ocultos na história. Por outro lado, na resenha de Os Miseráveis, eu comentei a qualidade do texto de apoio escrito por Renato Janine Ribeiro, que sintetiza o contexto político, econômico e social da época em que o livro foi escrito, além de trazer fatos sobre a vida de Victor Hugo que são importantes para a compreendermos a construção dos personagens e da narrativa. E as centenas de notas explicativas acrescentadas pela editora colaboram bastante nesse processo de entendimento.
Se você clicar nos links das duas resenhas, vai perceber uma coisa importante: eu gostei das duas histórias. A diferença é que a compreensão de uma delas foi incompleta, enquanto a da outra foi bem-sucedida.
Não sei se foi válido comparar os dois livros, que são de diferentes gêneros, escritos para diferentes públicos e com propósitos também diferentes. Mas vou procurar outro exemplo, que talvez ajude um pouco mais. O livro na imagem abaixo é o meu exemplar do Evangelho segundo o Espiritismo, livro básico de orientação para os espíritas, que contém interpretações dos ensinamentos de Jesus Cristo.

O Evangelho Segundo o Espiritismo. 

Introdução. Página 6.

A introdução do livro começa na página 6, e segue até a 24, nesta edição. Em outras versões, porém, ela pode se prolongar muito mais. Isso acontece porque as pessoas responsáveis pelo preparo do livro sentiram que havia a necessidade de fornecer explicações sobre o conteúdo que viria a seguir. Assim, alguém que tem acesso a esse livro pela primeira vez pode ter algumas dúvidas esclarecidas logo no início.

Existem livros que podem ser lidos de maneira direta, pois seu conteúdo é simples e de fácil entendimento. Já outros, são criados com o intuito de reunir textos com aspectos em comum; outros são o fruto de concursos literários; outros são obras clássicas, que influenciaram a literatura e que até hoje são pesquisadas. Esses três últimos casos são os tipos de livro que costumam vir com texto de apresentação, introdução ou prefácio. São textos que auxiliam na compreensão da leitura, que explicam a existência do próprio livro, ou o motivo de se fazer uma nova edição. Vou dar um outro exemplo:

No dia 1 de janeiro deste ano, os direitos sobre o livro Main Kampf, de Hitler, expiraram, e o manifesto racista e antissemita caiu em domínio público. Quando isso acontece, significa que depois de determinado prazo, uma obra intelectual deixa de pertencer a determinada pessoa ou a entidades privadas, e sua reprodução em diferentes meios passa a ser permitida. Assim, não existem mais proibições que impeçam o compartilhamento da obra pela internet, e no caso de um livro, editoras diferentes daquela que comprou os direitos originalmente também ficam livres para publicar tal livro. No Brasil, os direitos autorais duram por setenta anos a partir do primeiro mês de janeiro após a morte do autor. O prazo é o mesmo na Alemanha.

Edição de "Mein Kampf".
Fonte: Reprodução. BBC Brasil.

No início do ano, foi anunciado que o Instituto de História Contemporânea de Munique publicaria uma nova edição do manifesto. O livro de Hitler estava proibido na Alemanha desde o fim da Segunda Guerra, mas com o fim dos direitos, a proibição também deixa de existir. O objetivo seria auxiliar historiadores a estudarem o período, pois o livro foi muito importante na época. Segundo a notícia publicada pela BBC Brasil, "O objetivo da versão, que terá anotações, 'é mostrar que o texto é incoerente e ruim, em vez de poderoso e sedutor'". O portal Terra, que também publicou uma notícia, afirma: "Editada em dois volumes, a versão comentada tem cerca de 2 mil páginas, quase o dobro do original, incluindo introdução, índice e cerca de 3.500 comentários de estudiosos criticando, explicando e refutando a ideologia do ditador nazista."
Com isso, podemos concluir que a nova edição tem o objetivo de transmitir conhecimento sobre o período histórico, e também de evitar que pessoas concordem com o que é dito no texto. Com certeza, o conteúdo acrescentado (introdução, comentários, notas explicativas) é fundamental para isso.

Mas esse não é único objetivo desses "acréscimos". Veja a seguir:
No livro A vida que ninguém vê, de Eliane Brum, nós conhecemos várias histórias reais de pessoas consideradas invisíveis perante a sociedade. Aqui, os protagonistas são pessoas pobres, mendigos, pessoas analfabetas, pessoas com deficiência. São textos jornalísticos, mas escritos sem aquela "objetividade" muitas vezes insensível das notícias de jornal. Suas histórias são contadas com leveza, sensibilidade, carinho. O livro, aliás, já foi resenhado aqui, e você pode saber mais clicando nesse link

Livro "A vida que ninguém vê".

Ao final, existe um posfácio escrito pelo jornalista Ricardo Kotscho, e também um pequeno texto da própria Eliane Brum, falando de seu amor pela profissão e da importância de se prestar atenção naqueles que estão ao nosso lado. Ela explica que para virar notícia não é necessário ser celebridade, político ou empresário. Pessoas comuns também podem estar nas notícias. Esse texto, intitulado "Sobre a melhor profissão do mundo: O olhar insubordinado", é o que faz com que o leitor compreenda isso. Talvez alguém que pegue o livro A vida que ninguém vê fique se questionando qual seria o motivo de contar as histórias daquelas pessoas, e ao chegar ao final, ele encontrará a explicação.

Texto ao final do livro. "O olhar insubordinado".
Página 187.

Acho que todos esses exemplos que apresentei aqui foram o suficiente para que eu dissesse o que queria: tudo em um livro é informação. Mesmo que às vezes você esteja com tanta ansiedade para conhecer a história, que acaba ignorando os outros elementos, é importante sabermos a diferença que os textos de apoio fazem. Eu entendo, eu também passo por isso quanto tenho muita curiosidade sobre a história que vou ler. Mas costumo ler os textos de apoio, para entender certas coisas sobre o texto original.
Esse post tinha o objetivo de ser informativo e ao mesmo tempo opinativo. Espero que com as minhas palavras eu tenha sido capaz de mostrar a importância dos textos acrescentados para a publicação de um livro.
E você, o que achou? Descobriu algo que não sabia? Passou a ter mais curiosidade com os textos de apoio? Comente abaixo!

Por: Lethycia Dias

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