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"A ideia do presente depoimento surgiu da presença  de Domitila Barrios de Chungara na Tribuna do Ano Internacional da Mulher, organizada pelas Nações Unidas e realizada no México, em 1975. Ali conheci esta mulher dos Andes bolivianos, esposa de um trabalhador mineiro, mãe de sete filhos, que chegou à Tribuna representando o "Comitê de Donas de Casa do Siglo XX", organização que agrupa as esposas dos trabalhadores daquele centro produtor de estanho. Pelos seus anos de luta e em reconhecimento de autenticidade de seu compromisso, as Nações Unidas a convidaram oficialmente para estar presente naquela reunião. Sendo a única mulher da classe trabalhadora que participou ativamente na Tribuna em representação da Bolívia, suas intervenções produziram um profundo impacto entre os presentes. Isso se deu, em grande parte, porque 'Domitila viveu o que as outras falaram', segundo o comentário de uma jornalista sueca. Este relato, que Domitila considera a "culminação" de seu trabalho na Tribuna, é o grito de um povo que sofre porque é explorado. Ademais, revela como a liberação da mulher está fundamentalmente ligada à liberação sócio-econômica, política e cultural do povo e que sua participação no processo si situa nesse nível."
Moema Viezzer, em "Ao Leitor"

Gênero: Não-ficção
Número de páginas: 305
Autora: Moema Viezzer
Ano e local de publicação original: 1977, México
Tradutor: Edimilson Antonio Bizelli
Editora: Siglo XXI Editora

Um povo que ganha voz


Composto de vários relatos colhidos e organizados por Moema Viezzer, socióloga brasileira que conheceu Domitila na Tribuna do Ano Internacional da Mulher no México, em 1975, Se me deixam falar pode ser resumido em um testemunho de coragem. Natural de um país que durante décadas foi marcado pela instabilidade política, e cuja população se compunha, na maioria, de camponeses, operários e mineiros, Domitila viveu em meio à injustiça social, e logo deu-se conta do quando o trabalhador comum é explorado em seu país (não muito diferente de qualquer outro país. Esposa de um trabalhador da mina Siglo XX, sempre passou por privações: as moradias eram precárias e emprestadas; os salários eram baixos; o trabalho era perigoso e exaustivo; a educação e a saúde eram insuficientes; não havia outras fontes de trabalho para os jovens. Essa era vida de Domitila, este o único mundo que ela conhecia. Entretanto, não abaixava a cabeça. Ensinada pelo seu pai a não aceitar as coisas como elas são, ela sempre lutou para que os trabalhadores tivessem uma vida melhor, e para que a mulher, em especial, fosse mais respeitada.
O relato, em primeira pessoa é simples, está divido em três partes: "seu povo", "sua vida" e "o que clama meu povo". Ao fim, segue uma entrevista de Domitila para Moema, sobre a publicação do livro. Do início ao fim, Domitila descreve o ambiente em que vive, os terríveis abusos cometidos pelo governo de seu país, pelo exército, e pelo próprio sistema capitalista, que causa a exploração incessante dos trabalhadores. Sim, Domitila é socialista. Ela recorre a alguns fatos históricos para nos falar desse mundo que conhece, dessa vida sofrida, dessa luta por dignidade. Mudanças de governo, golpes de estado, guerrilhas. Ataques armados, repressão, censura, prisões injustificadas, ameaças, tortura. Qualquer semelhança com nossa ditadura militar é pura realidade.
Se você se interessa por causas sociais; se está atento às atitudes autoritárias de governos que se dizem democráticos; se critica o imperialismo, a busca exagerada pelo lucro, este talvez seja um bom livro. Caso contrário, pare já. Trata-se de uma história real, que recorta um cotidiano triste, desolador. Aqui não há nada de extraordinário ou fantástico, e nem a esperança de um final feliz. O que se vê, até as últimas páginas é sofrimento, pontuado por curtas passagens de otimismo e esperança, que logo se desfazem diante da força repressora do Estado.

"Por que permitir que uns poucos se beneficiem dos recursos que há na Bolívia
e nós fiquemos, eternamente, trabalhando como animais,
sem ter maiores aspirações,
sem poder prever um futuro melhor para os nossos filhos?"
(Página 60)

A luta sindical se faz presente a todo momento, e é um dos elementos mais importantes. Foi através do que aprendeu com seu pai (um militante convicto) e das experiências sindicais, que Domitila recebeu e fortaleceu seus ideais, tornando-se uma líder respeitada por seus iguais, e igualmente perseguida pelo governo. Os sofrimentos enfrentados por ela, aliás, são chocantes, e é difícil acreditar que tenha sobrevivido.
A luta dos mineiros da Siglo XX teve repercussão durante a época, e foi feito em 1971 um filme a respeito, chamado A coragem do povo. A atuação de Domitila na Tribuna, no México, foi decisiva para seu reconhecimento mundial. Foi assim que conheceu Moema, foi assim que ganhou a oportunidade de tornar seu povo visível. Se me deixam falar pode não ser o primeiro na minha lista de intenções de leitura, e com certeza não entrará para a lista dos meus preferidos, mas é sobretudo um relato de força.

Aspectos positivos: a linguagem é simples, e a leitura, rápida.
Aspectos negativos: não é uma história alegre, não é nem um pouco fácil de encarar. É revoltante e pessimista em alguns pontos.

Obs.: A estrutura de nossas resenhas mudou. A partir de hoje, novas informações estão sendo incluídas, como se pode notar acima. Número de páginas, gênero, ano e local de publicação, editora e título estarão no início da resenha. Ao final, virão os aspectos negativos e positivos, destacados das minhas opiniões gerais. Espero que isto contribua para a melhor compreensão das resenhas. O que acharam?

Por: Lethycia Dias

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